Eliane Gonçalves | 20 de outubro de 2025 - 07h25

Pesquisadores da UFPE criam "nariz eletrônico" que detecta metanol em bebidas adulteradas

Equipamento usa inteligência artificial para identificar odores e pode reconhecer, em segundos, a presença de metanol e outras irregularidades em bebidas alcoólicas

METANOL
Nova tecnologia busca ajudar no combate à venda de bebidas adulteradas, capazes de causar intoxicações por metanol. - (Foto: divulgação UFPE)

Em meio ao aumento de casos de intoxicação por metanol no país, pesquisadores do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolveram uma tecnologia capaz de identificar bebidas adulteradas a partir do cheiro. O chamado “nariz eletrônico” analisa uma única gota da amostra e, em até 60 segundos, aponta a presença de substâncias nocivas ou diluições indevidas.

O equipamento transforma aromas em dados e, com apoio da inteligência artificial, aprende a reconhecer o odor característico de bebidas originais. A partir dessa base de aprendizado, ele consegue diferenciar versões adulteradas.

“O nariz eletrônico transforma aromas em dados. Esses dados alimentam a IA, que aprende a identificar a assinatura do cheiro de cada amostra”, explica o professor Leandro Almeida, do Centro de Informática da UFPE.

A precisão do sistema é de 98%, e ele é capaz de detectar não apenas o metanol, mas qualquer tipo de adulteração, como bebidas diluídas em água.

O projeto começou há cerca de dez anos, voltado inicialmente ao setor de petróleo e gás, para analisar o odorizante do gás natural, substância responsável pelo cheiro que permite identificar vazamentos.

Agora, a pesquisa avança para outras aplicações. O “nariz eletrônico” também pode identificar adulterações em alimentos e até ser usado em ambientes hospitalares para detectar micro-organismos pelo cheiro.

“É possível avaliar a qualidade de produtos como café, carnes e pescados”, comenta Leandro. Ele destaca ainda que indústrias alimentícias já utilizam o sistema para verificar, por exemplo, o estado do óleo de soja na produção de margarina.

O grupo de pesquisa estuda formas de tornar a tecnologia acessível ao mercado. Entre as possibilidades estão tótens de verificação em bares, restaurantes e adegas, além de versões portáteis voltadas para fabricantes e consumidores.

“Nós já temos o desenho de uma caneta eletrônica, pensada para o cliente final consultar a própria bebida ou alimento”, revela o pesquisador.

Por enquanto, o protótipo foi testado apenas em laboratório. Para a etapa de testes em ambiente real e futura comercialização, o projeto deve receber investimentos estimados em R$ 10 milhões.

Apresentação na Rec’n’Play 2025

A tecnologia foi apresentada durante o Rec’n’Play 2025, festival de inovação e tecnologia realizado entre os dias 15 e 18 de outubro, no Porto Digital, em Recife (PE).