Tarifa dos EUA ameaça exportação de café brasileiro e pode tirar Brasil da liderança no mercado
Com sobretaxa de 50%, exportações caem mais de 50% e café perde espaço para concorrentes como México e Colômbia
ECONOMIAA sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros está colocando em risco a posição do Brasil como principal fornecedor de café ao maior mercado consumidor do mundo. O alerta vem do diretor-executivo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, que afirma que o impacto já é visível e pode se agravar nas próximas safras.
“O grande receio é perder o maior mercado global, onde estão as principais empresas. É um prejuízo enorme perder o acesso para seus concorrentes”, disse Matos em entrevista ao Broadcast nas Redes.
EUA deixam de ser maior comprador - Antes da entrada em vigor do tarifaço, os Estados Unidos eram o principal destino do café brasileiro. Em setembro, no entanto, o país caiu para a terceira posição, atrás da Alemanha. Apenas neste mês, os embarques de café ao mercado norte-americano recuaram 52,8%, somando 332.831 sacas. Em 2024, os EUA compraram 8,1 milhões de sacas, o que representou 16% de toda a exportação brasileira de café, com receita de US$ 2 bilhões.
Segundo o Cecafé, os prejuízos com contratos suspensos ou cancelados ainda não podem ser calculados com precisão. “Não temos outra estratégia se não a isenção total aos cafés brasileiros. Se não resolvermos isso o mais rápido possível, os impactos chegarão também aos produtores”, alertou o executivo.
Concorrência avança no mercado americano - Com a sobretaxa, países como México, Colômbia e Honduras têm ampliado sua presença nos Estados Unidos. “Levamos muito tempo para conquistar o primeiro lugar no mercado americano. Agora, com o crescimento da produção mundial, o Brasil corre o risco de sair da liderança para o fim da fila”, disse Matos.
O Brasil tem buscado redirecionar parte do café que deixou de ser vendido aos EUA para Europa, países árabes e asiáticos. De janeiro a setembro, o país exportou 29,1 milhões de sacas, 20,5% a menos do que no mesmo período de 2024. Apesar disso, a receita gerada aumentou 30%, alcançando US$ 11,049 bilhões, refletindo os preços elevados do grão.
Café pode entrar em lista de exceções - O setor trabalha para que o café brasileiro seja incluído na lista de exceções do tarifaço. De acordo com Matos, os importadores americanos já indicaram que o produto é prioridade nessa negociação.
“Talvez seja possível uma suspensão geral da tarifa ou ao menos a ampliação da lista de isenções. O importante é virar a página das tarifas”, afirmou Matos, destacando que a conversa entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, e a missão diplomática ao governo americano, podem ajudar a reverter a medida.
Café mais caro nos EUA - A alta de 40% no preço internacional do café, somada à tarifa de 50%, está tornando inviável a exportação do grão aos Estados Unidos. O reflexo já é sentido no varejo americano, que em agosto registrou a maior alta no preço do café desde 1997 — nove vezes acima da média. Esse impacto inflacionário e o fim dos estoques da indústria local aumentam a pressão sobre as autoridades americanas para rever a taxa.
Diversificação de mercados - Paralelamente, o setor aposta na abertura de novos mercados e na diversificação das exportações. Países como China e Austrália surgem como destinos promissores para o café brasileiro. Segundo Matos, preservar mercados consolidados e buscar novos consumidores são estratégias complementares.
Em um cenário de tarifas elevadas, estoques baixos e incerteza com a próxima safra, os preços internacionais do café devem continuar altos até o fim de 2025.