Flávia Said | 17 de outubro de 2025 - 20h00

Cofundador da Cobasi e CEO da Petz dizem ao Cade que perderam espaço para marketplaces

Nassar disse que a fusão com a Petz reduz custos de produção; 'A operação estimula a competição, favorecendo o consumidor e contribuindo para a eficiência do setor', defendeu

ECONOMIA
Marcas Cobasi e Petz uniram forças - (Foto: Cobasi/Divulgação e Petz/Divulgação)

Durante audiência pública realizada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), os CEOs da Petz e da Cobasi defenderam a fusão das duas empresas, argumentando que o mercado pet vive atualmente sob forte pressão concorrencial causada principalmente pelos marketplaces. O cofundador e CEO da Cobasi, Paulo Nassar, e o CEO da Petz, Sérgio Zimerman, foram os últimos a se manifestar no encontro, que reuniu diversas entidades e ONGs favoráveis e contrárias à operação.

Paulo Nassar afirmou que a união entre Petz e Cobasi representaria apenas cerca de 10% de participação de mercado e rebateu críticas sobre possível concentração de poder. “É um argumento absolutamente falacioso falar em formação de monopólio. Também não há sentido algum em afirmar que haverá concentração de mercado. O varejo pet é altamente pulverizado e fragmentado”, disse. Ele explicou que a proposta tem como foco reduzir custos operacionais, o que, segundo ele, favoreceria o consumidor final. Ainda de acordo com Nassar, as duas redes enfrentam concorrência direta não apenas de marketplaces como Amazon, Shopee, Mercado Livre, Magalu e Petlove, mas também de pet shops de bairro, agrolojas, supermercados e atacarejos. O objetivo principal da fusão, disse ele, é ampliar a presença física e digital. “O canal online se tornou um dos principais vetores de pressão concorrencial”, destacou.

Sérgio Zimerman, CEO da Petz, reforçou que a operação é uma resposta à perda de relevância das duas companhias nos últimos anos e revelou que a rentabilidade da Petz foi seriamente afetada pela competitividade do setor. Segundo ele, a empresa, que em 2021 era avaliada em R$ 12 bilhões, atualmente vale R$ 1,7 bilhão. Zimerman destacou ainda que as plataformas de marketplace vêm pressionando o setor com políticas agressivas de frete e preço. “Um abaixa o valor mínimo do frete, a outra zera o frete. Todo esse efeito de concorrência ativa todos os segmentos de varejo, e o segmento pet não é exceção”, afirmou. Ele também rebateu acusações sobre riscos de abandono de animais, enfatizando que a proteção animal está no DNA das duas empresas envolvidas na fusão.

Por outro lado, a Petlove, terceira interessada diretamente afetada pela fusão, manifestou oposição à proposta. O advogado Carlos Emmanuel Joppert Ragazzo, representante da empresa, argumentou que Petz e Cobasi são concorrentes diretas em larga escala, tanto no ambiente físico quanto online. Ele afirmou que nenhuma outra empresa no setor possui a mesma abrangência em termos de escala, estratégia e marca, e alertou para o risco de aumento de barreiras à entrada de novos players no mercado caso a fusão seja aprovada. Segundo Ragazzo, a nova empresa resultante da união atuaria de forma integrada, oferecendo produtos e serviços para pets em um modelo omnichannel, o que ampliaria sua força de mercado e reduziria a competição. Ele apontou ainda que programas de fidelidade, poder de compra e reconhecimento das marcas tornam esse mercado altamente concentrado e difícil de ser contestado por novos entrantes.

Também presente na audiência, o representante do Instituto de Pesquisas e Estudos da Sociedade e Consumo, Vitor Morais de Andrade, alertou para possíveis impactos sociais da operação. Ele mencionou o risco de abandono de animais, caso famílias percam o poder aquisitivo para manter seus pets devido à alta de preços. “A fusão elimina a única rivalidade existente e cria uma barreira de difícil transposição para a entrada de novos concorrentes. Sem concorrência, o aumento de preço não é provável, é inevitável”, declarou.

Apesar das críticas, algumas ONGs, protetores de animais e representantes de projetos sociais se manifestaram a favor da fusão, destacando parcerias e ações sociais promovidas por Petz e Cobasi. Heleana Konieczna, vice-presidente da Associação e Projeto Social Moradores de Rua e Seus Cães (MRSC), afirmou que a combinação das empresas não configura monopólio e pode até fortalecer o atendimento às causas animais, se conduzida com responsabilidade.

A representante do Ministério do Meio Ambiente, Vanessa Negrini, adotou uma postura intermediária. Ela defendeu a reavaliação da fusão, mesmo tendo sido aprovada sem restrições pela área técnica do Cade, e sugeriu que, caso a operação seja confirmada, sejam criados mecanismos de monitoramento de preços, diversidade de fornecedores e garantias de acessibilidade aos produtos para famílias de baixa renda.