Daniela Amorim (Broadcast) | 17 de outubro de 2025 - 09h35

Motoristas e entregadores por aplicativo trabalham mais e ganham menos por hora, aponta IBGE

Pesquisa mostra que, apesar de terem rendimento mensal ligeiramente maior, os trabalhadores plataformizados enfrentam jornadas mais longas, menor remuneração por hora e baixa contribuição previdenciária

BRASIL
Segundo o IBGE, 1,638 milhão de pessoas tinham como trabalho principal a função de condutores de automóveis em 2024. - (Foto: Tiago Queiroz/Estadão)

Os trabalhadores que atuam por aplicativos de transporte e entrega no Brasil seguem enfrentando longas jornadas e rendimentos por hora mais baixos do que os profissionais que não dependem dessas plataformas. É o que mostra o módulo Trabalho por meio de plataformas digitais, 2024 da Pnad Contínua, divulgado nesta sexta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o levantamento, motoristas e taxistas que utilizam aplicativos trabalharam, em média, 12,2% mais horas por semana do que os que não usam essas ferramentas digitais. Entre os motociclistas, a diferença foi de 9,4%. Apesar do esforço maior, o retorno por hora é inferior: R$ 13,9 para motoristas e R$ 10,8 para motociclistas.

Em 2024, o país tinha 1,64 milhão de condutores de automóveis, sendo 43,8% (824 mil) ligados a aplicativos de transporte e 56,2% (1,06 milhão) fora dessas plataformas. No caso dos motociclistas, um terço (33,5%) trabalhava via aplicativos de entrega, o equivalente a 351 mil pessoas, enquanto 66,5% (698 mil) atuavam de forma independente.

A contribuição previdenciária é baixa entre os trabalhadores plataformizados: apenas 25,7% dos motoristas de aplicativo e 21,6% dos entregadores faziam recolhimentos. Entre os profissionais que não usam aplicativos, os percentuais eram de 56,2% e 36,3%, respectivamente.

Dependência das plataformas

O IBGE classifica como “trabalho plataformizado” aquele em que a empresa digital controla aspectos essenciais da atividade, como o acesso a clientes, a forma de pagamento, a distribuição de tarefas e as avaliações. No transporte de passageiros e nas entregas, o grau de dependência é o mais alto.

Mais de 90% dos motoristas de aplicativo disseram que o valor das corridas é definido pela própria plataforma. Entre os entregadores, 81,3% relataram o mesmo. A maioria também afirmou que o aplicativo decide quais clientes atender, como receber o pagamento e quanto tempo têm para concluir a atividade.

Embora o trabalho por aplicativo ofereça flexibilidade de horários, o IBGE aponta que a rotina é, na prática, mais exigente. Em 2024, 55,8% dos motoristas e 50,1% dos entregadores afirmaram ter a jornada influenciada por bônus, promoções ou ameaças de bloqueio feitas pelas plataformas. Ainda assim, 78,5% dos motoristas disseram valorizar a possibilidade de escolher quando trabalhar.

Os plataformizados tiveram rendimento mensal médio de R$ 2.996, levemente acima dos R$ 2.875 recebidos pelos não plataformizados. No entanto, a carga de trabalho semanal foi de 44,8 horas, contra 39,3 horas dos demais. O ganho por hora, portanto, foi menor: R$ 15,4, ante R$ 16,8 dos trabalhadores tradicionais.

O estudo também revelou alta informalidade: 71,1% dos plataformizados não tinham vínculo formal, frente a 43,8% entre os demais. Apenas 35,9% contribuíam para a previdência, enquanto o índice chegava a 61,9% entre os trabalhadores fora das plataformas.

Perfil do trabalhador por aplicativo

A pesquisa mostra que 83,9% dos plataformizados são homens, e 59,3% têm escolaridade entre o ensino médio completo e o superior incompleto. Cerca de 86% atuam por conta própria. No caso dos entregadores, o rendimento médio foi de R$ 2.340, praticamente metade dos R$ 4.615 obtidos por outros profissionais que também usam aplicativos para captar clientes.

Para o IBGE, os números reforçam um cenário de autonomia limitada e condições desiguais. Embora as plataformas ofereçam oportunidade de renda e flexibilidade, elas também concentram controle sobre a remuneração, os horários e o volume de trabalho, refletindo uma relação marcada pela informalidade e pela ausência de proteção social.