Dirigente do Solidariedade tem bens bloqueados por decisão do STF em investigação sobre sindicato
Operação Sem Desconto apura cobranças ilegais a aposentados; ministro André Mendonça autorizou bloqueio de R$ 389 milhões
JUSTIÇAUma decisão do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o bloqueio de R$ 389 milhões em bens de dirigentes ligados ao Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas (Sindnapi). Entre os atingidos está Luiz Antonio Adriano da Silva, atual secretário nacional do partido Solidariedade e ex-diretor da entidade sindical.
A medida foi tomada no contexto da Operação Sem Desconto, que investiga a realização de cobranças irregulares a aposentados e a movimentação de recursos por meio de empresas de fachada. O nome de Silva aparece no inquérito ao lado de sua esposa, Camilla Russo Varo. Segundo os relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), o casal teria participado de um “círculo de operações suspeitas” envolvendo R$ 410 mil.
De acordo com os documentos, Camilla Varo aparece como destinatária ou intermediária de transferências entre membros da direção do Sindnapi, familiares e empresas sem atividade econômica comprovada. A suspeita é de que os valores tenham origem em contribuições compulsórias ou indevidas cobradas de aposentados vinculados ao sindicato.
As operações teriam ocorrido ao longo dos últimos anos e envolvido diferentes contas bancárias. As movimentações foram consideradas atípicas pelas autoridades financeiras e, por isso, motivaram o bloqueio patrimonial.
Disputa interna no sindicato e laços partidários - Luiz Antonio Silva teria deixado o Sindnapi após desentendimentos com o atual presidente da entidade, Milton Baptista de Souza Filho. Ele é adversário político de Paulinho da Força, deputado federal (SP) e presidente do Solidariedade — legenda da qual Silva é secretário nacional.
Apesar da ligação política, não há, até o momento, indícios de envolvimento direto de Paulinho nas irregularidades investigadas. O Solidariedade não se manifestou oficialmente sobre o caso até o momento.
A vice-presidência do Sindnapi é ocupada por José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele, no entanto, não figura entre os alvos da investigação.
Além de Silva, a decisão de André Mendonça inclui o bloqueio de bens de outros ex-dirigentes do Sindnapi: Anísio Ferreira de Sousa (diretor nacional tesoureiro), Carlos Cavalcante de Lacerda (diretor de assuntos previdenciários) e do espólio de João Batista Inocentini, conhecido como João Feio, ex-presidente da entidade, falecido em 2023.
O Supremo avalia que há indícios consistentes de que os recursos desviados possam estar ocultos em bens adquiridos em nome de terceiros ou movimentações indiretas, o que justifica a medida cautelar de indisponibilidade.
Operação Sem Desconto continua em andamento - A operação foi deflagrada a partir de denúncias sobre cobranças indevidas de mensalidades e taxas para aposentados que sequer haviam autorizado o desconto em folha. Os valores seriam recolhidos de forma automática e repassados a contas vinculadas ao sindicato.
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) seguem com a apuração do caso, que pode desdobrar-se em ações penais contra os investigados. O foco atual está na identificação da origem dos valores e no caminho percorrido pelo dinheiro até as empresas suspeitas.
Até o momento, a defesa de Luiz Antonio Silva não se manifestou publicamente. A investigação corre em sigilo, mas novas diligências devem ocorrer nas próximas semanas.