Contador ostentação preso em operação da PF é suspeito de lavar dinheiro para o PCC
Rodrigo Morgado, investigado na Narco Bet, teve aumento milionário no patrimônio e virou alvo central da Polícia Federal
POLÍCIARodrigo de Paula Morgado, contador com vida de luxo amplamente divulgada nas redes sociais, foi preso pela segunda vez na Operação Narco Bet, deflagrada pela Polícia Federal. Suspeito de atuar como operador financeiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), ele é investigado por lavagem de dinheiro em um esquema de tráfico internacional de drogas, envolvendo empresas de fachada, movimentações em criptomoedas e contas de terceiros.
A investigação aponta Morgado como o articulador de uma complexa estrutura de ocultação de ativos da facção criminosa. Segundo a Polícia Federal, ele criou e operava diversas empresas fictícias em nome de laranjas, movimentando grandes quantias fora do sistema financeiro oficial. O contador também é ligado à compra do veleiro Lobo IV, interceptado pela Marinha dos Estados Unidos em fevereiro de 2023 com mais de 3 toneladas de cocaína a bordo.
De motoboy a milionário em um ano - Morgado diz ter construído seu patrimônio “com esforço e estudo”. Em depoimento à Polícia Federal, contou que começou como motoboy de um escritório de contabilidade, fez curso técnico, concluiu graduação na área e passou a atuar como empresário. A transformação, segundo ele, foi inspirada por mentorias com nomes como Caio Carneiro e Pablo Marçal.
Em apenas um ano, seus rendimentos declarados saltaram de R$ 295 mil (em 2022) para R$ 7,9 milhões (em 2023). A rápida ascensão financeira chamou a atenção das autoridades. Durante as investigações, a PF mapeou bens como imóveis, criptoativos e carros de luxo, incluindo uma Ferrari. A ostentação, segundo Morgado, é parte de sua “estratégia de marketing para atrair clientes do mesmo nicho”.
“Para captar clientes, isso envolve também a ostentação nas redes sociais”, disse seu advogado à PF, em defesa da exibição de riqueza.
O relatório da Polícia Federal descreve Morgado como o "epicentro" da operação financeira ligada ao tráfico. O delegado Raphael Soares Astini, da Coordenação Geral de Repressão a Drogas, Armas e Facções Criminosas, destacou o papel ativo do contador na criação de mecanismos de lavagem de dinheiro.
“Os documentos analisados revelam que sua atuação não se restringia à mera contabilidade, mas alcançava a concepção e execução de mecanismos de ocultação de ativos, bem como a coordenação das transações vultosas”, escreveu o delegado.
Ainda segundo a PF, Morgado também agia como “banco particular” de outros envolvidos na investigação. Ele movimentava grandes valores por meio de contas pessoais e de empresas sob seu controle, convertia valores em criptoativos e realizava transferências a terceiros, tudo fora do radar da regulamentação financeira.
Ligação com influenciador preso - A Operação Narco Bet também resultou na prisão de Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como Buzeira, influenciador digital com mais de 13 milhões de seguidores. Ele é apontado como um dos beneficiários da estrutura financeira operada por Morgado.
A PF suspeita que Buzeira tenha recebido valores oriundos do esquema criminoso, embora a defesa do influenciador alegue que “não há, até o presente momento, qualquer elemento concreto que comprove envolvimento em atividades ilícitas”.
Morgado já era investigado pela PF na Operação Narco Vela, deflagrada em abril deste ano. Na ocasião, ele já havia sido citado como elo importante entre a contabilidade de empresas e a estrutura financeira do PCC. A nova prisão reforça o entendimento da Polícia Federal de que o contador é peça-chave na sustentação econômica da facção.
A prisão de Morgado e Buzeira aprofunda o cerco da Polícia Federal ao braço financeiro do crime organizado, evidenciando o uso de redes sociais e figuras públicas como fachada para operações ilegais.