Gleisi diz que Arthur Lira reafirma apoio ao governo e nega pressão por cargos
Ministra das Relações Institucionais afirma que Lira procurou o Planalto para se reposicionar como aliado, em meio à exoneração de indicados
POLÍTICA NACIONALA ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou nesta terça-feira (14) que o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara dos Deputados, procurou o governo federal para reafirmar que integra a base aliada e deseja colaborar com a atual gestão. Segundo Gleisi, o encontro foi solicitado por Lira e não teve como pauta qualquer tentativa de manter indicados a cargos no governo.
“Lira não veio negociar comigo em nome de nenhum partido ou conjunto de partidos. Ele veio conversar sobre a situação dele no governo, reafirmar que integra a base e que quer ajudar, mas não veio para negociar”, declarou a ministra em entrevista à CNN.
A movimentação ocorre em um momento delicado de reorganização da base política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que determinou o corte de indicações de parlamentares que votaram contra a Medida Provisória 1303 — uma proposta alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O objetivo, segundo o Planalto, é saber “com quem pode contar” nas votações futuras no Congresso.
Corte de cargos atinge diversos partidos - Como parte dessa reorganização, o governo tem promovido a exoneração de indicados políticos que pertencem a partidos ou grupos que se distanciaram da base nas últimas votações. De acordo com a ministra Gleisi, a medida não é partidária, mas uma forma de ajustar o apoio institucional ao Palácio do Planalto.
“Quem votou contra [a MP] optou por sair do governo. Queremos saber com quem podemos contar, quem realmente está com o governo, e isso vale para todos”, afirmou Gleisi, ao jornal O Estado de S. Paulo. Ela classificou a medida como um processo de “reorganização da base”, em alinhamento com diretrizes estabelecidas diretamente pelo presidente Lula.
Até o momento, foram atingidos nomes indicados por partidos como PP, União Brasil, PSD, MDB e PL. As exonerações atingiram cargos estratégicos em órgãos como a Caixa Econômica Federal, os Correios e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), além de superintendências regionais no Ministério da Agricultura, Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).
Gleisi Hoffmann também confirmou que o presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, será mantido no cargo. Indicado em 2023, ainda durante a presidência de Arthur Lira na Câmara, Vieira teve seu nome associado ao grupo político do deputado alagoano, mas, segundo a ministra, sua permanência está assegurada.
A decisão de manter Vieira ocorre mesmo com o avanço da “faxina” em cargos estratégicos, o que indica que, apesar do corte de indicados, ainda há espaço para negociação com figuras consideradas centrais no tabuleiro político de Brasília.
Reaproximação de Lira tem foco em 2026 - A tentativa de Lira de se reposicionar como aliado do Planalto também é lida como uma movimentação estratégica com vistas às eleições de 2026. Após deixar a presidência da Câmara, o deputado busca manter influência política e acesso a espaços de decisão do governo, mesmo com um Congresso mais fragmentado e tensionado por disputas internas.
Aliado de primeira hora do governo Jair Bolsonaro (PL), Lira se manteve como uma figura central nos acordos políticos durante os primeiros anos do governo Lula, mas viu sua influência enfraquecer com o avanço de dissidências no Centrão e com as votações recentes em que parte da base rompeu com o Planalto.
A sinalização de apoio agora ocorre no momento em que o governo tenta consolidar uma base mais fiel no Congresso, em meio à tramitação de pautas econômicas e sociais consideradas prioritárias para Lula.
A crise de confiança entre o Planalto e parte da base parlamentar acirrou os ânimos em Brasília. A retaliação aos votos contrários à MP do IOF é uma mensagem clara do governo de que fidelidade será recompensada, enquanto a infidelidade terá custo político.
Por outro lado, a declaração de Lira de que “quer ajudar” o governo revela que as pontes ainda não foram completamente queimadas — e que o jogo político segue aberto para negociações.
Enquanto isso, ministros e lideranças governistas seguem trabalhando para recompor a base com vistas às próximas votações, especialmente aquelas que exigem maioria qualificada, como projetos de reforma fiscal e mudanças em marcos regulatórios.