"Não adianta nome sem viabilidade": Tereza Cristina cobra maturidade da direita para 2026
Ex-ministra de Bolsonaro vê Tarcísio, Ratinho Jr. e Michelle como opções reais e pede que a direita evite divisões que fortaleçam Lula
CENÁRIOS ELEITORAIS DE 2026A senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura no governo Jair Bolsonaro, defendeu que a direita tenha “maturidade” para escolher um nome viável para a eleição presidencial de 2026. Em entrevista à Folha de S.Paulo, a parlamentar afirmou que a fragmentação de candidaturas no campo conservador pode favorecer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e disse que “não adianta colocar um nome que não tenha viabilidade nenhuma”.
“Temos um adversário, que é o governo que está aí. Não somos adversários entre nós”, afirmou. “O melhor nome é o que une e viabiliza a vitória.”
O alerta da senadora vem no momento em que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) manifestou a intenção de disputar o Planalto e passou a criticar outros nomes do campo da direita, como o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Para Tereza Cristina, o movimento do deputado pode atrapalhar a formação de um bloco unificado. “O melhor seria que estivéssemos todos unidos. Ainda há tempo para isso”, disse.
Nomes e viabilidade - Questionada sobre as alternativas para representar a direita na eleição, a senadora cita três nomes com chances reais: Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior (PSD-PR) e Michelle Bolsonaro, esposa do ex-presidente. “São dois ótimos nomes, e as pesquisas indicam que há três viáveis: Tarcísio, Ratinho e Michelle”, afirmou.
Segundo ela, as pesquisas recentes colocam os três “em nível de igualdade”, e o desafio será definir qual deles consegue “unir mais e falar para fora da bolha da direita”.
Para a senadora, o ideal seria que a oposição tivesse um único nome já no primeiro turno, mas, se isso não ocorrer, o foco deve ser apoiar quem chegar mais forte à segunda etapa. “Se pensarmos todos iguais, ótimo. Mas, se não, que vá para o segundo turno quem tiver mais viabilidade. E aí, sim, todo mundo junto”, disse.
Relação com Bolsonaro - Tereza Cristina diz não ter conversado recentemente com o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas afirma que espera uma posição mais clara dele sobre o futuro político. “Já pedi para ir lá, mas não recebi o convite. Ele é um político diferente. A lógica dele nem sempre é a lógica de todos. Na hora certa, ele vai refletir e tomar uma posição rápida”, avaliou.
Sobre o papel do deputado Eduardo Bolsonaro nas articulações recentes com políticos norte-americanos e nas críticas internas, a senadora evita confronto direto. “É difícil para mim responder. Ele tem razões diferentes das comerciais, mas o Congresso percebeu que é preciso fazer diplomacia parlamentar. O resultado não foi perdido, alguma semente ficou”, afirmou.
Candidatura a vice e bastidores - Tereza Cristina e o senador Ciro Nogueira (PP-PI) têm sido citados como possíveis nomes para compor uma chapa presidencial como vice. A senadora desconversou. “Está cedo para isso. A vice é a última coisa que se discute. Tem que ver o que traz mais votos, o que dá mais adesão. Só não pode virar cavalo de batalha”, afirmou.
A senadora também minimizou divergências internas no Progressistas e disse que o partido deve aguardar o cenário de 2026 se consolidar antes de definir seu papel. “Temos que trabalhar com responsabilidade. Não é hora de precipitação.”
STF e anistia do 8 de janeiro - Questionada sobre os nomes cotados para a vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal, Tereza citou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como o nome que teria mais apoio da oposição. “Imagino que seja o senador, nosso colega, mas não conversei com ninguém”, disse.
Em relação à proposta de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, a senadora adotou tom conciliador. “São jovens desesperados. Seguramente, houve infiltrados ali para causar desordem”, afirmou.
Para ela, a discussão de uma anistia ampla, mas não total, pode ajudar a reduzir a polarização. “A anistia bem trabalhada diminui a possibilidade de reincidência. Já foi muito alta. Não tenho dúvida de que trará benefícios.”
Leitura política - A entrevista à Folha mostra uma Tereza Cristina mais moderada e pragmática, distante do tom de confronto que marcou parte da base bolsonarista. O discurso de “maturidade” e “viabilidade” reflete o esforço do PP e de outros partidos do centrão em reconstruir um projeto político que una o campo da direita sem repetir os erros de 2022.
Ao mesmo tempo, a senadora mantém aceno discreto à base bolsonarista ao incluir Michelle entre os nomes viáveis e ao evitar críticas diretas ao ex-presidente.
Com o avanço das negociações partidárias para 2026, o desafio da direita parece menos sobre falta de nomes e mais sobre a falta de consenso — algo que a ex-ministra resumiu em uma frase que ecoou entre os presentes à entrevista:“Não adianta ter nome. É preciso ter viabilidade.”