Gabriel Hirabahasi | 15 de outubro de 2025 - 12h45

Lula ironiza relação com Trump e critica articulações de brasileiros nos EUA

Presidente brinca sobre conversa com Trump, fala de 'indústria petroquímica' e condena ações de opositores no exterior

POLÍTICA EXTERNA
Lula ironiza conversa com Trump e critica opositores que articulam contra o Brasil nos EUA. - Foto: REUTERS/Adriano Machado

Durante cerimônia em comemoração ao Dia dos Professores, realizada no Rio de Janeiro nesta quarta-feira (15), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou o bom humor para comentar sua relação com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e aproveitou para alfinetar opositores que tentam influenciar a política americana contra o Brasil.

Ao relembrar um breve contato com Trump durante a Assembleia Geral da ONU, Lula brincou sobre a falta de afinidade com o ex-mandatário americano. “Quando fui falar com o (Donald) Trump, não conhecia ele, a gente estava de mal. Tinha gerado uma química na ONU, 29 segundos, sabe. Então ele me ligou e eu disse que queria estabelecer uma conversa sem liturgia”, disse o presidente. Em seguida, completou: “Não pintou química, pintou uma indústria petroquímica”. A piada arrancou risos da plateia presente.

Negociações com os EUA - Apesar do tom descontraído, Lula fez referência a uma negociação importante entre Brasil e Estados Unidos, marcada para os próximos dias. Sem entrar em detalhes, ele sinalizou que novas conversas diplomáticas estão previstas. A expectativa é que o encontro citado seja a reunião entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, prevista para quinta-feira (17).

Antes do encontro oficial, equipes técnicas dos dois países já iniciaram nesta quarta uma rodada preliminar de negociações. O principal tema em pauta é o pacote de tarifas impostas pelos EUA a produtos brasileiros — o chamado “tarifaço” determinado ainda durante o governo Trump.

Segundo fontes diplomáticas, o Brasil quer entender se os americanos pretendem tratar apenas de questões econômicas, como taxações e comércio bilateral, ou se também colocarão em debate temas sensíveis, como sanções a autoridades brasileiras.

Sem citar nomes, Lula também criticou brasileiros que, segundo ele, tentam pressionar os Estados Unidos contra o atual governo federal. “Chega de cidadãos indo para os EUA tentar inflar os americanos contra nós”, declarou. A fala foi interpretada como uma referência indireta ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), conhecido por manter articulações com figuras da direita americana.

O presidente já havia demonstrado incômodo com esse tipo de movimentação em outras ocasiões, especialmente quando envolve tentativa de deslegitimação do sistema eleitoral ou alinhamento com alas mais radicais do Partido Republicano.

Diplomacia e pragmatismo - A atual política externa brasileira tem buscado recompor canais diplomáticos abalados nos últimos anos e reposicionar o país como um ator relevante no cenário internacional. A relação com os Estados Unidos é parte estratégica desse esforço, ainda que marcada por diferenças políticas.

No encontro previsto com Marco Rubio, o Brasil deve tentar reverter medidas protecionistas e discutir temas de interesse comercial mútuo. Por outro lado, o governo americano pode aproveitar o momento para pressionar o Brasil em questões de governança, meio ambiente e cooperação internacional.