Redação | 15 de outubro de 2025 - 08h01

Inflação dos alimentos volta a subir no último trimestre e deve pesar no orçamento

Depois de quatro meses de alívio, preços de carnes, frutas e legumes devem pressionar IPCA até dezembro

ECONOMIA
Pressão nos preços de carnes, frutas e hortaliças deve elevar gasto com alimentação até dezembro - (Foto: Wilton Junior/Estadão)

O alívio no preço dos alimentos no varejo chegou ao fim. Economistas apontam que o último trimestre de 2025 marcará a retomada das pressões inflacionárias sobre a alimentação no domicílio, após quatro meses seguidos de deflação. Os principais vilões devem ser as proteínas, especialmente a carne bovina, e os itens in natura, como frutas, legumes e verduras.

Apesar dessa virada, a inflação geral deve continuar sob controle. A mais recente edição do Boletim Focus do Banco Central projeta que o IPCA encerrará o ano com alta de 4,72%, ligeiramente acima do teto da meta oficial, de 4,50%.

A reversão da tendência de queda já começou a aparecer nas cotações do atacado. O Índice de Preço ao Produtor Amplo (IPA), da Fundação Getulio Vargas, mostrou alta de 1,53% em agosto e de 1,89% em setembro para os produtos agropecuários. Como há um intervalo entre os preços no atacado e o impacto no varejo, os efeitos devem ser sentidos no carrinho do consumidor ao longo de outubro, novembro e dezembro.

Estudo da consultoria 4Intelligence projeta uma alta acumulada de 3,22% nos alimentos vendidos para consumo em casa no último trimestre do ano — o segundo maior aumento para o período em cinco anos. A mediana histórica de 2011 a 2024 é de 2,40%.

Em 2024, por exemplo, a inflação da alimentação no domicílio no quarto trimestre chegou a 4,26%, impulsionada por uma forte estiagem. Em 2025, o cenário é menos crítico em termos climáticos, mas há outros fatores de risco.

Entre os produtos que devem subir, a carne bovina tem destaque. Frigoríficos já sinalizaram aos supermercados um reajuste de até 6% no preço da carne no fim de outubro e início de novembro. Segundo o economista Fabio Romão, da 4Intelligence, a oferta de carne bovina ainda sente os reflexos do ciclo de baixa da pecuária, com menor volume de abates.

Outros itens com previsão de alta relevante são: tubérculos, raízes e legumes (10,80%), frutas (5,44%), hortaliças e verduras (4,64%), aves e ovos (4,96%) e bebidas como café e chás (4,61%). No caso do café, os estoques mundiais estão apertados, o que pressiona os preços.

A valorização do dólar é outro fator observado com preocupação pelos analistas. De acordo com a economista-chefe da Lifetime Gestora de Recursos, Marcela Kawauti, o câmbio favorável dos últimos meses tende a se deteriorar com o avanço das incertezas fiscais no Brasil e a possível normalização da política monetária nos Estados Unidos.

"Boa parte do câmbio mais barato já foi repassado. Agora, devemos ver um real mais fraco, o que pressiona os alimentos, especialmente os importados ou com preço atrelado ao dólar", explica Kawauti.

Ela projeta uma alta de 0,60% na alimentação no domicílio em outubro, com aceleração para 0,85% em novembro e 1% em dezembro. A economista lembra ainda que o fim do ano costuma ter uma demanda maior por alimentos, impulsionada pelo pagamento do 13º salário e pelas festividades, o que reforça a tendência de alta.

Mesmo com a pressão nos alimentos, a inflação acumulada em 12 meses segue perdendo força. Para o economista André Braz, coordenador de índices de preços do FGV/Ibre, a safra recorde e a ausência de choques climáticos fortes este ano devem manter a inflação dentro de limites aceitáveis.

"A alimentação está mais volátil por conta do câmbio e de fatores sazonais. Mas o comportamento dos preços em 12 meses deve continuar desacelerando, o que ajuda a manter o IPCA sob controle", afirma.