Da Redação | 14 de outubro de 2025 - 15h35

STF inicia julgamento sobre vínculo trabalhista de motoristas e entregadores de aplicativos

Primeira sessão sob presidência de Edson Fachin deve rejeitar voto do ministro, que defende reconhecimento de direitos aos trabalhadores das plataformas

NACIONAL
Edson Fachin preside seu primeiro julgamento no STF sobre vínculo de motoristas e entregadores de aplicativos - (Foto: Rovena Rosa)

Tema que mexe com o mercado de trabalho e com milhões de brasileiros está na pauta do Supremo Tribunal Federal (STF). No primeiro julgamento sob o comando de Edson Fachin, a Corte analisa se há ou não vínculo empregatício entre motoristas e entregadores de aplicativos e as empresas para as quais prestam serviço.

Fachin, que assumiu a presidência do STF na segunda-feira (29), tende a ficar isolado no plenário. Conhecido por uma leitura social da legislação, o ministro costuma votar contra os interesses das empresas. Em decisões recentes, o tribunal tem se posicionado de forma mais favorável aos empregadores.

Ciente da provável derrota, o novo presidente pretende propor uma solução intermediária: não reconhecer o vínculo formal, mas estabelecer garantias mínimas aos trabalhadores, como remuneração básica e limitação de jornada.

Fachin, que assumiu a presidência do STF na segunda-feira (29), tende a ficar isolado no plenário

A discussão, conhecida como “uberização”, é considerada uma das mais relevantes da atualidade, com impacto direto sobre a economia e o modelo de trabalho digital. Até agora, o tema vinha sendo tratado apenas em decisões individuais ou nas turmas do tribunal. Fachin levou o debate ao plenário para uniformizar o entendimento e criar uma tese de repercussão geral, que servirá de referência para todo o Judiciário.

O julgamento envolve ações movidas por Rappi e Uber, que contestam decisões de instâncias inferiores favoráveis a trabalhadores. Na primeira sessão, em 1º de outubro, foram ouvidas sustentações orais de advogados, do advogado-geral da União, Jorge Messias, e de Claudionor Leitão, pela Defensoria Pública da União (DPU).

Fachin suspendeu o julgamento no dia seguinte e informou que os votos dos ministros serão retomados em cerca de 30 dias. Até lá, devem ocorrer negociações internas para buscar um consenso.

Com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso, o caso deve ser julgado com dez ministros, caso a nova indicação ao Supremo ainda não tenha sido aprovada.

O STF já possui precedentes que rejeitam o vínculo formal entre trabalhadores e plataformas digitais. Em dezembro de 2023, a Primeira Turma decidiu que motoristas de aplicativos não têm relação de emprego com as empresas, desde que preservada a autonomia do profissional.

Na ocasião, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Cristiano Zanin votaram nesse sentido. Mesma posição foi adotada em fevereiro de 2024, quando o tribunal anulou uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que havia reconhecido vínculo entre um entregador e a plataforma Rappi.

O ministro Flávio Dino, que ainda não estava na Corte nessas decisões, votou posteriormente pelo reconhecimento da repercussão geral do tema, mas ainda não indicou posição definitiva sobre o mérito.

A discussão sobre a “uberização” se conecta a outras decisões marcantes do STF. Em 2020, o plenário considerou legal a terceirização de qualquer atividade, sem que isso configure vínculo empregatício. Na época, Fachin ficou entre os poucos votos contrários.

Mais recentemente, o ministro Gilmar Mendes suspendeu todas as ações no país sobre pejotização — quando o trabalhador é contratado como pessoa jurídica em vez de ter carteira assinada. Gilmar defende que a Justiça do Trabalho vem restringindo a liberdade empresarial e contrariando decisões do Supremo.