Redação | 14 de outubro de 2025 - 06h27

Ministério Público aponta elo direto entre gestoras Reag, Altinvest e o PCC

Operação Carbono Oculto revela que empresas facilitaram lavagem de dinheiro e gestão de ativos da facção

CRIME FINANCEIRO
Operação Carbono Oculto, de agosto: pela primeira vez, gestoras entraram na mira das investigações ligadas ao crime organizado - (Foto: Werther Santana/Estadão)

As gestoras de recursos Reag e Altinvest estão oficialmente na mira do Ministério Público de São Paulo (MPSP), suspeitas de participação direta em operações financeiras e societárias que beneficiariam o Primeiro Comando da Capital (PCC). A denúncia faz parte da Operação Carbono Oculto, que revelou o uso de fundos de investimento para ocultar a origem e o destino de recursos ilícitos ligados à facção criminosa.

Segundo o Gaeco, núcleo do MP voltado ao combate ao crime organizado, as duas empresas e seus executivos não apenas geriam fundos ligados ao grupo, como também atuaram diretamente em aquisições, gestão e estruturação de negócios financiados com dinheiro de origem criminosa.

Entre os nomes citados, aparecem Walter Martins Ferreira III, Ramon Dantas e Silvano Gersztel, todos com participação em fundos e contratos atrelados a empresas do grupo liderado por Mohamad Mourad, conhecido como “Primo”, suspeito de ser o principal operador financeiro do PCC.

Mohamad Houssein Mourad, o Primo, identificou-se em apresentação na Associação dos Fornecedores de Cana da Região de Catanduva como João Mourad, dono da Usina Itajobi - (Foto: Afcrc/Divulgação)

O MP afirma que foram montadas estruturas jurídicas e societárias para dificultar a identificação dos verdadeiros donos dos ativos. Um dos casos mais emblemáticos envolve a Usina Itajobi, em Catanduva (SP), adquirida pelo fundo Mabruk II — administrado pela Reag e que, segundo a denúncia, recebeu recursos de Mourad.

Ferreira III aparece como diretor administrativo e financeiro da usina. Já Ramon Dantas, diretor da Reag DTVM, assinou como representante da gestora em diversos negócios. Gersztel também representou o fundo Mabruk II na compra da Itajobi. Todos eles também são sócios da holding RPN Partners, que divide endereço com outras empresas supostamente ligadas ao esquema.

A Reag, em nota, disse que todos os atos de seus executivos ocorreram “na condição de representantes legais dos fundos” e que “não se confundem com o patrimônio da empresa”. Ferreira III também negou qualquer irregularidade.

Algumas ligações das gestoras e seus sócios com negócios conectados ao PCC, segundo o Gaeco** - (Fonte: Gaeco/SP)

A Altinvest também foi citada na investigação. O sócio Rogério Garcia Peres aparece como conselheiro da Rede Sol Fuel, distribuidora de combustíveis apontada como integrante da rede de Mourad. Ele também mantém sociedade em postos de combustíveis com Valdemar de Bortoli Junior, presidente da própria Rede Sol.

Em nota, a Altinvest declarou que “repudia veementemente qualquer tentativa de associar a empresa ou seus profissionais ao crime organizado” e que suas atividades são “dentro da legalidade”. Peres afirma que sua atuação foi apenas imobiliária e jurídica, sem envolvimento na gestão.

Apesar disso, o fundo Mabruk II também teria adquirido R$ 30 milhões em notas comerciais da Rede Sol. Mourad, segundo a investigação, usava essas aquisições para esconder patrimônio e movimentar recursos sem controle.

O MPSP aponta que a rede operada por Mourad inclui usinas de açúcar, distribuidoras de combustíveis, imóveis, empresas de logística e até um terminal portuário em Paranaguá. Lucas Pimentel de Oliveira Filho, ex-sócio da Altinvest, aparece como ex-diretor da Stronghold Infra, ligada à operação portuária.

As empresas compartilham endereços, simulações de negócios e triangulação de notas fiscais para camuflar transações, segundo o MP. Parte desses dados já havia sido revelada na Operação Cassiopeia, que expôs tentativas de movimentar milhões em contas de bancos como Safra e Santander.

A defesa de todos os envolvidos alega inocência e colaboração com as investigações. Mourad está foragido.