Redação | 13 de outubro de 2025 - 21h15

Presidente de Madagascar deixa o país após motim militar, mas resiste a renunciar

Andry Rajoelina fugiu após unidade de elite aderir a protestos liderados pela geração Z; manifestações começaram por falta de água e energia

INTERNACIONAL
Protestos são liderados por grupo que se autodenomina 'Gen Z Madagascar'; segundo a ONU, manifestações deixaram ao menos 22 mortos e dezenas de feridos - (Foto: Luis Tato/AFP)

O presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, deixou o país alegando risco à sua vida, após parte das Forças Armadas se voltar contra seu governo. A declaração foi feita na noite desta segunda-feira (13), durante um pronunciamento transmitido pela televisão estatal, de local não revelado. Apesar da fuga, Rajoelina não anunciou renúncia ao cargo.

A crise política se intensificou no último sábado (11), quando a Capsat, uma unidade de elite do Exército, aderiu aos protestos que já duravam semanas e exigiu a saída imediata do presidente e de seus ministros. A movimentação foi classificada pelo governo como uma tentativa ilegal de golpe, o que motivou Rajoelina a deixar o território malgaxe.

“Fui forçado a encontrar um lugar seguro para proteger minha vida”, afirmou o presidente, que não revelou seu destino. Fontes da imprensa local indicam que ele teria saído em um avião militar francês, mas o governo da França não confirmou a informação.

Após a fuga do presidente, a Capsat declarou que assumiu o controle das Forças Armadas e indicou um novo comandante militar, o coronel Michael Randrianirina. O ministro da Defesa reconheceu o nome proposto, num sinal de ruptura dentro do governo. Em pronunciamento, Randrianirina afirmou que a ação da unidade "atende aos apelos do povo" e negou se tratar de um golpe militar.

Rajoelina, por sua vez, pediu respeito à Constituição e propôs diálogo, mesmo fora do país. Ele vem sendo criticado por parte da população por sua dupla cidadania – malgaxe e francesa – e por manter estreitos laços com a antiga potência colonial.

O movimento que levou à atual crise política teve início em 25 de setembro, motivado por constantes cortes de água e energia. Rapidamente, os protestos ganharam força com a adesão da juventude malgaxe, especialmente da geração Z, e passaram a reunir críticas à corrupção, ao alto custo de vida e à precariedade no acesso à educação.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), ao menos 22 pessoas morreram desde o início das manifestações, e dezenas ficaram feridas.

Além de Rajoelina, o ex-primeiro-ministro, aliado próximo do presidente, também deixou Madagascar. Ele desembarcou na ilha de Maurício na madrugada de domingo (12), conforme confirmado pelo governo local. As autoridades mauricianas, no entanto, demonstraram desconforto com a situação, afirmando "não estar satisfeitas".

A Embaixada dos Estados Unidos em Antananarivo recomendou que seus cidadãos evitem circular e permaneçam em locais seguros, citando a situação como "altamente volátil e imprevisível". A União Africana também se manifestou, apelando por calma, moderação e respeito institucional de todas as partes envolvidas.

A atual crise remete a 2009, quando o próprio Rajoelina assumiu o poder com apoio da Capsat, após um golpe militar que derrubou o então presidente Marc Ravalomanana. Rajoelina foi eleito em 2018 e reeleito em 2023, em um pleito marcado por boicote da oposição e denúncias de irregularidades.

Apesar do discurso em rede nacional, o futuro político de Rajoelina permanece incerto, com o vácuo de poder sendo ocupado por lideranças militares, num cenário que ele mesmo viveu ao assumir o governo pela primeira vez.