Redação | 13 de outubro de 2025 - 10h55

Troca de reféns e retirada militar marcam novo acordo entre Israel e Hamas

Negociação inclui libertação de reféns vivos e corpos de mortos, saída parcial de tropas e envio de ajuda a Gaza

MUNDO
Familiares abraçam o ex-refém Eitan Mor, em uma base militar israelense perto da Faixa de Gaza - ( Foto: Forças de Defesa de Israel / AFP)

O Hamas libertou os 20 reféns restantes em Gaza na segunda-feira, 13, dando início a uma troca por prisioneiros palestinos detidos em Israel, que constituiu uma parte crucial do acordo de cessar-fogo mediado na semana passada por mediadores internacionais.

O acordo foi anunciado pelo presidente Trump e confirmado por Israel e pelo Hamas na madrugada de quinta-feira, com o governo de Israel votando a favor da sua aprovação na madrugada de sexta-feira. Pouco depois, um cessar-fogo entrou em vigor em Gaza, as tropas israelenses começaram a recuar para uma nova linha defensiva dentro do território e os palestinos deslocados começaram a voltar para a cidade de Gaza, no norte do território.

Junto com a troca de reféns e prisioneiros e o fim dos combates que devastaram Gaza por mais de dois anos, o acordo também prevê um grande influxo de ajuda à Faixa de Gaza, que tem sido assolada por uma grave crise humanitária.

O acordo foi resultado de negociações indiretas entre Israel e o Hamas, mediadas pelo Egito, Catar, Turquia e Estados Unidos, e se baseia em um plano apresentado por Trump no final de setembro. Muitos detalhes ainda são escassos e as respostas para algumas das questões mais delicadas - como se o Hamas irá desarmar - permanecem obscuras.

No entanto, muitos palestinos e israelenses comemoraram a notícia do acordo.

As autoridades israelenses estimam que cerca de 20 reféns ainda estavam vivos em Gaza, enquanto os restos mortais de aproximadamente 25 pessoas sequestradas também permaneciam no território. Eles são os últimos de um grupo de cerca de 250 pessoas levadas durante o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deu início à guerra.

Na madrugada de segunda-feira, os primeiros sete reféns foram libertados, seguidos por mais 13 horas depois, segundo o Exército israelense. Como em outras ocasiões, os cativos foram entregues ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha e transportados até áreas controladas por Israel.

Após a recepção, foram levados à base militar de Reim, no sul do país, onde passaram por exames médicos e reencontraram parentes próximos. Depois, foram transferidos de helicóptero para hospitais na região de Tel Aviv, preparados para recebê-los.

Plano de troca envolve prisioneiros palestinos e corpos - De acordo com o plano de paz apresentado por Donald Trump, cerca de 20 reféns israelenses seriam trocados por 250 prisioneiros palestinos, muitos deles cumprindo prisão perpétua em Israel, além de 1.700 moradores de Gaza detidos durante o conflito.

Israel já iniciou a libertação dos prisioneiros, com parte sendo encaminhada para Ramallah, na Cisjordânia, e outra parte retornando à Faixa de Gaza.

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Segundo informações divulgadas, mais da metade dos presos libertados deve ser enviada ao exílio, embora os destinos ainda não tenham sido confirmados.

Outro ponto sensível do acordo envolve a entrega dos corpos de cerca de 25 reféns mortos, processo que autoridades consideram mais lento e delicado, e que deve levar mais tempo do que as 72 horas previstas inicialmente.

O plano prevê ainda a devolução dos corpos de 15 habitantes de Gaza para cada refém morto entregue.

Tropas israelenses iniciam retirada parcial de Gaza - O acordo determina que Israel recue suas tropas até uma área conhecida como linha amarela, dentro da Faixa de Gaza. Esse movimento começou na sexta-feira, conforme informado por autoridades envolvidas nas negociações.

O Exército israelense afirmou que suas tropas começaram a se reposicionar conforme novas diretrizes, mas não detalhou a localização exata das forças. Um mapa divulgado com suposta indicação das novas linhas foi classificado depois como apenas “ilustrativo”.

Apesar da retirada parcial, militares israelenses continuarão posicionados na fronteira sul de Gaza com o Egito, na região conhecida como corredor de Philadelphi.

Com Gaza enfrentando uma grave crise humanitária, o novo acordo prevê a entrada de cerca de 600 caminhões diários com alimentos, medicamentos, combustível e outros itens essenciais. O volume representa o dobro do número de veículos autorizados nas semanas anteriores.

A operação envolve a atuação da ONU, organizações internacionais, setor privado e países doadores. Além da entrada de produtos, também está previsto o apoio a padarias, cozinhas comunitárias, pescadores e famílias afetadas.

Entre os itens que começaram a entrar em Gaza estão gás de cozinha, tendas, carne congelada, frutas frescas e medicamentos. Centenas de milhares de refeições prontas e pacotes de pão foram distribuídos em áreas do sul e norte do território.

A ONU informou que o plano para ampliação da ajuda está em andamento e destacou o progresso nas ações.

Embora tenha aceitado libertar reféns, o Hamas ainda não se comprometeu com o desarmamento, ponto considerado essencial por Israel para a consolidação de um acordo definitivo.

O primeiro-ministro israelense afirmou que não aceitará um pacto sem a desmilitarização do grupo. Por outro lado, há indicativos de que o Hamas estaria disposto a discutir um novo tipo de relação com Israel, mesmo sem abrir mão total de suas armas.

Negociadores envolvidos acreditam que garantir um acordo inicial era prioridade para viabilizar os próximos passos.

Dois anos de conflito, milhares de mortos e cenário de devastação - Desde o ataque de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 pessoas em Israel, a maioria civis, o país lançou uma ofensiva militar em Gaza que causou milhares de mortes, incluindo combatentes e civis, além de destruição generalizada na região.

O conflito também gerou aumento da tensão internacional, desgaste político e episódios de violência antissemita ao redor do mundo.

O acordo atual traz alívio temporário, mas deixa questões em aberto sobre o futuro da segurança, da reconstrução de Gaza e do papel do Hamas na política da região.