11 de outubro de 2025 - 11h20

Casos de coqueluche em crianças pequenas crescem mais de 1.200% no Brasil, alerta Fiocruz

Doença altamente contagiosa, mas prevenível por vacina, volta a preocupar autoridades após 14 mortes em 2024

SAÚDE
Vacinação é a principal forma de prevenir a coqueluche, doença respiratória que voltou a crescer no Brasil. - (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom)

Os casos de coqueluche em crianças menores de cinco anos aumentaram mais de 1.200% no Brasil, segundo levantamento do Observatório de Saúde na Infância, coordenado pela Fiocruz e pela Faculdade de Medicina de Petrópolis (Unifase).

Em 2024, já foram 2.152 casos confirmados, mais do que a soma dos cinco anos anteriores. Do total, 665 crianças precisaram ser internadas, e 14 morreram — superando as dez mortes registradas entre 2019 e 2023.

“Como explicar todas essas crianças que morreram de algo totalmente prevenível?”, questiona Patrícia Boccolini, coordenadora do Observatório.

Embora os registros de 2025 (até agosto) indiquem ligeira redução, os números seguem altos: 1.148 casos e 577 internações.

A coqueluche é uma infecção respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis, transmitida por gotículas de saliva. Provoca tosse intensa, dificuldade para respirar e pode ser fatal em bebês pequenos.

A prevenção é feita por meio da vacina pentavalente, aplicada aos 2, 4 e 6 meses de idade.
Grávidas devem receber a vacina DTPa em todas as gestações — a principal forma de proteger os recém-nascidos nos primeiros meses de vida.

Os pesquisadores apontam múltiplas causas:

“Quando olhamos o Brasil como um todo, as coberturas parecem razoáveis. Mas, no nível municipal, há muita heterogeneidade — polos com altas coberturas e outros muito baixos”, explica Boccolini.

Segundo o Ministério da Saúde, em 2024 mais de 90% dos bebês e 86% das gestantes foram vacinados. Apesar da melhora, o país ainda não atingiu a meta de 95%, necessária para o chamado efeito de rebanho.

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), nove países das Américas registraram mais de 18 mil casos e 128 mortes por coqueluche apenas nos sete primeiros meses de 2025.

“A coqueluche tem um comportamento cíclico, com picos a cada cinco a dez anos”, explica Juarez Cunha, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Ele lembra que a vacinação das gestantes foi incorporada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) após o último grande surto, há cerca de uma década.

“Até os seis meses, o bebê não está completamente protegido. Por isso, a imunização materna é essencial para garantir anticorpos desde o nascimento”, reforça Cunha.

Para os especialistas, o aumento de casos também está ligado à diminuição do medo da doença entre a população.

“Tem muita gente que nem sabe o que é coqueluche. É o reflexo de um passado de sucesso das vacinas. Quando paramos de ver casos e mortes, perdemos o medo. Espero que esses números sirvam de alerta”, diz Boccolini.