Maria Edite Vendas | 11 de outubro de 2025 - 09h00

Espetáculo "A Valsa em Lugares Esquecidos" leva Nelson Rodrigues a penitenciárias femininas de Campo

Projeto contemplado pela Política Nacional Aldir Blanc une arte, escuta e liberdade ao apresentar o drama "Valsa nº 6" em unidades prisionais da Capital

CULTURA & CIDADANIA
Projeto "A Valsa em Lugares Esquecidos" leva o drama de Nelson Rodrigues às penitenciárias femininas de Campo Grande, com apoio da Política Nacional Aldir Blanc. - (Foto: Lunar Fotografía)

Com o compromisso de levar arte e sensibilidade a espaços onde o teatro raramente chega, a Prefeitura de Campo Grande, por meio da Fundação Municipal de Cultura (Fundac), apoia o projeto “A Valsa em Lugares Esquecidos”, contemplado pela Política Nacional Aldir Blanc (PNAB).

A iniciativa leva o espetáculo “Valsa nº 6”, de Nelson Rodrigues, às penitenciárias femininas da Capital, em uma ação que une arte, escuta e transformação social.

Idealizado e protagonizado por Tauanne Gazoso, o projeto estreia no dia 16 de outubro, às 19h, com apresentação gratuita no Sesc Teatro Prosa e intérprete de Libras. Os ingressos estão disponíveis pelo Sympla, acessível no perfil do @sescculturams no Instagram.

Após a estreia, a montagem segue para duas unidades prisionais femininas:

As atividades incluem mediações culturais conduzidas por Tauanne Gazoso e Halisson Nunes, que também assina a preparação corporal e produção executiva do projeto.

“A arte precisa ocupar todos os lugares e estar a serviço de todas as pessoas. Nosso papel é criar estratégias para levar o teatro a esses espaços e contribuir para a transformação social”, afirma Tauanne Gazoso, que interpreta Sônia, jovem que tenta reconstruir sua história entre memórias, delírios e o trauma de um feminicídio.

Na peça, Tauanne interpreta sozinha todos os desdobramentos da personagem — a menina, a mulher, as vozes e as lembranças que a assombram.

“A personagem transita entre a memória e a alucinação. É um processo vivo, que exige entrega total”, comenta a atriz.

O título “A Valsa em Lugares Esquecidos” nasce da ausência histórica de iniciativas culturais em unidades prisionais femininas de Mato Grosso do Sul.

“Confirmamos junto à Agepen que ainda não houve apresentações teatrais nas penitenciárias femininas da Capital. Nosso gesto é também de pesquisa e resistência”, explica Halisson Nunes.

Para o artista, o contexto local dá à obra um significado ainda mais urgente.

“Mato Grosso do Sul está entre os estados com maiores índices de feminicídio. Apresentar ‘Valsa nº 6’ para mulheres privadas de liberdade é um gesto simbólico e necessário”, pontua.

Além das apresentações, o projeto busca fomentar a escuta sensível e o compartilhamento de experiências entre as internas, transformando o teatro em um espaço de acolhimento e reflexão.

“O teatro é encontro e liberdade. E falar de liberdade é essencial, especialmente em lugares onde ela é restrita”, reflete Tauanne, citando Cecília Meireles: ‘Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda’.

Para Halisson, o impacto ultrapassa o simbolismo: “O teatro só existe na relação entre ator e público. Quando essas mulheres se veem como protagonistas, as transformações são inevitáveis.”