Santa Casa alerta para risco de colapso e cobra atualização de contrato com o SUS
Presidente Alir Terra Lima afirma que hospital enfrenta déficit mensal de R$ 15 milhões e mantém atendimentos emergenciais com recursos insuficientes
CRISE NA SAÚDEA Santa Casa de Campo Grande vive um cenário crítico que ameaça a continuidade dos atendimentos públicos prestados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo a presidente Alir Terra Lima, o hospital enfrenta um desequilíbrio financeiro grave, causado pela defasagem do contrato com o município e pela falta de repasses judiciais e de reajustes há mais de dois anos.
Ela explica que a instituição sobrevive com recursos insuficientes, o que já impacta diretamente os serviços médicos e a compra de insumos.
“O valor que recebemos não cobre os custos do atendimento que somos obrigados a prestar. Há mais de dois anos vivemos um contrato defasado, sem reajuste compatível com a inflação hospitalar”, afirmou Alir Terra.
A Santa Casa recebe, em média, R$ 33 milhões por mês, mas as despesas chegam a R$ 45 milhões, gerando um déficit que varia entre R$ 13 e R$ 15 milhões mensais. Esse desequilíbrio financeiro tem provocado atrasos no pagamento dos médicos, que acumulam três folhas e meia em aberto.
Apesar da situação, o hospital mantém o atendimento de urgência e emergência, priorizando casos de risco de vida. As cirurgias eletivas, no entanto, estão sendo reduzidas devido à falta de condições financeiras e à diminuição do número de anestesistas e ortopedistas.
“Optamos pela vida, mesmo com os atrasos. Os médicos continuam trabalhando para salvar pacientes, mas essa situação é insustentável. Estamos fazendo o impossível para manter os serviços funcionando”, ressaltou a presidente.
Segundo Alir Terra Lima, a Santa Casa tem cerca de R$ 220 milhões a receber de diferentes esferas de governo — valores que estão sendo discutidos judicialmente. Entre eles, está uma ação sobre recursos federais da pandemia que não foram repassados pelo município, já reconhecida pela Justiça, com decisão favorável ao hospital.
Além disso, uma auditoria independente determinada pela Justiça Federal apontou um déficit contratual de R$ 257 milhões, valor que, atualizado, supera R$ 1 bilhão.
“Não se trata de falta de repasse, e sim de falta de pagamento pelos serviços já realizados. O hospital cumpre sua parte, mas o poder público não faz o mesmo. Isso causa um sentimento de impotência entre todos os profissionais que continuam atendendo mesmo sem receber.”
A presidente lembrou que o problema é estrutural e atinge Santas Casas em todo o país, devido à tabela do SUS, sem atualização desde 2008, o que faz com que o valor pago não cubra os custos atuais de medicamentos, órteses e próteses.
Alir Terra afirmou que o hospital busca diálogo com o município de Campo Grande, gestor pleno da saúde, e com o Governo do Estado, mas ainda não houve uma solução definitiva.
“Precisamos de um contrato equilibrado e do cumprimento das decisões judiciais. A Santa Casa responde por 55% dos atendimentos de média e alta complexidade de Campo Grande. Não se trata de um hospital pedindo ajuda, mas de garantir o direito da população à saúde.”
Mesmo diante da crise, a Santa Casa mantém os salários dos funcionários celetistas em dia, priorizando equipes de enfermagem, limpeza, obstetrícia e emergência — setores essenciais para o funcionamento contínuo do hospital.
A direção reforça que a instituição não suspenderá os atendimentos de urgência e emergência, mas alerta para o risco de novas paralisações em especialidades cirúrgicas se o impasse financeiro persistir.
“A Santa Casa é um hospital filantrópico, e isso significa atuar com amor ao próximo. Mesmo diante das dificuldades, nossa prioridade é salvar vidas. Mas é preciso que os entes públicos assumam sua responsabilidade para evitar o colapso da saúde”, concluiu Alir Terra Lima.