Alexandre Gonzaga | 10 de outubro de 2025 - 07h20

Economia criativa transforma o Mato Grosso do Sul em potência exportadora

Empresas e artesãos do Estado conquistam o mercado internacional com apoio do Sebrae e mostram que inovação e sustentabilidade podem coexistir

ECONOMIA
Empreendedores e artesãos do Mato Grosso do Sul têm conquistado o mercado internacional. - Foto: Álvaro Rezende/Secom

Mato Grosso do Sul vem redesenhando sua identidade econômica. Se antes a produção de grãos e carnes concentrava a pauta de exportações, hoje o Estado desponta também em setores criativos e de alto valor agregado. De minérios exclusivos a bolsas de luxo e artesanato sustentável, negócios locais vêm conquistando mercados internacionais e fortalecendo o nome do Estado além das fronteiras.

Entre os exemplos dessa nova fase está a Bella Pedra Cristal, empresa de mineração sediada em Campo Grande e comandada por Júnior Franco Roza. A companhia se destaca por dominar todas as etapas da exploração mineral — da prospecção ao uso responsável dos recursos — e vem levando para o mundo pedras preciosas extraídas do solo sul-mato-grossense.

“Cada pedra tem sua história. É fascinante imaginar como formações naturais como a ametista surgiram ao longo de milhões de anos. Dentro delas há uma beleza guardada pela natureza”, comenta Roza. Ele cita ainda o jaspe São Gabriel, de várias tonalidades, e a Calcita Millennium, encontrada em Bodoquena, conhecida por suas manchas geométricas únicas, resultado de contaminações naturais por ferro, alumínio e ouro.

O empresário, nascido em Ponta Porã e criado em Campo Grande, conta que o gosto pelas pedras vem da infância, inspirado pelo avô. “Trabalho com pedras desde 2000. Sempre fui apaixonado por elas e decidi transformar isso em profissão”, afirma.

Roza defende que o Estado tem um enorme potencial mineral ainda pouco explorado. “Conhecemos menos de 2% do nosso subsolo. Minas Gerais, por exemplo, já tem mais de 70% do território mapeado”, destaca.

Segundo Roza, a calcita possui mais de mil utilidades: vai de insumo para ração animal à indústria de remédios, tintas, cimentos e outros produtos. (Foto:Álvaro Rezende/Secom)

A Bella Pedra trabalha com minerais como quartzo, jaspe e calcita, sendo esta última utilizada em mais de mil aplicações — da indústria farmacêutica à produção de tintas, cimentos e ração animal. Segundo o empresário, a virada nos negócios aconteceu em 2023, com o apoio do Sebrae/MS e a participação em rodadas internacionais de negócios.

“Participamos do programa Exporta Mais, do Sebrae, que mudou nossa visão. Aprendemos o processo correto para exportar e hoje temos parceiros no Japão, Portugal, Suíça e Dubai”, explica.

Economia criativa

De acordo com o Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (Sicab), o Mato Grosso do Sul conta com 6.690 artesãos ativos. O número reflete a expansão da chamada economia criativa — um setor que une talento, cultura e inovação para gerar renda e oportunidades.

Para Luciana Azambuja Roca, superintendente de Economia Criativa da Setesc, o setor tem papel estratégico no desenvolvimento do Estado. “Além de ser fonte de renda para muitas famílias, a economia criativa tem potencial para exportar nossa cultura por meio do artesanato, da moda, da música, da literatura e do audiovisual”, afirma.

A secretaria também trabalha em uma parceria com territórios do Paraguai, Argentina e Chile, dentro do Corredor Bioceânico, para ampliar os negócios criativos. “Acreditamos que essa rota pode ir além das questões logísticas, criando oportunidades que valorizem nossa cultura regional”, explica Luciana.

Entre as ações em andamento estão a criação de uma política estadual de economia criativa, o incentivo às feiras locais e o fomento ao turismo cultural. Um levantamento intitulado Panorama da Economia Criativa em Mato Grosso do Sul também está em fase final de elaboração para mapear o setor e subsidiar novas políticas públicas.

Moda pantaneira no cenário internacional

Inspirada na força e na beleza do Pantanal, a empresária Zanir Furtado transformou o couro bovino da região em símbolo de luxo e sustentabilidade. Sua marca, que leva seu nome, nasceu em Rio Negro, com o propósito de gerar renda e capacitar moradores locais para a produção de bolsas e acessórios artesanais.

“Eu nasci em Rio Negro e moro em Brasília, mas o Pantanal sempre foi minha essência. O projeto começou em 2019 e, mesmo com os desafios da pandemia, conseguimos lançar oficialmente a marca em 2020”, relembra.

O aprendizado veio com o curso Empretec, do Sebrae, que reforçou sua visão empreendedora. “Moda não é glamour, é empreendedorismo. Se não fosse o Empretec, eu teria desistido”, afirma.

As peças, desenhadas pela própria Zanir, seguem padrões internacionais de qualidade e são confeccionadas por jovens e mulheres locais. Hoje, a marca exporta para diversos países e se prepara para abrir sua primeira loja física em Campo Grande, na Rua Euclides da Cunha.

O trabalho de Zanir ganhou projeção internacional após uma de suas bolsas ser escolhida como presente oficial do governo sul-mato-grossense à princesa Kako, do Japão. “Foi uma coroação do nosso propósito. Saber que ela usou a peça foi emocionante”, conta.

Artesanato sustentável

Outra história que reflete a força do setor é a da Fibra Morena, empresa fundada por Lucimar Maldonado, em Campo Grande. O negócio começou com um pequeno grupo de mulheres artesãs e hoje reúne mais de 30 profissionais, entre eles indígenas das etnias Terena, de Miranda e Jardim.

A marca produz acessórios e objetos de decoração a partir de fibras naturais como bananeira, taboa e buriti, priorizando o respeito ao meio ambiente e o impacto social.

Com apoio do Sebrae e da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, a Fibra Morena passou a exportar para o Japão e a Irlanda, além de manter contratos com grandes redes de varejo nacionais. “Hoje temos mais de 60 clientes, muitos deles fora do Estado, em cidades como São Paulo e Brasília”, relata Lucimar.

Fibra Morena se tornou um case de sucesso do artesanato sul-mato-grossense. (Foto:Álvaro Rezende/Secom)

O reconhecimento culminou com a seleção da empresa como fornecedora oficial de presentes corporativos para a COP30, que acontecerá em 2025. “Recebemos o pedido para produzir cem peças da coleção ‘Bichos do Pantanal’. É um marco para o nosso trabalho e para o artesanato sul-mato-grossense”, comemora.

Lucimar também foi premiada no TOP 100 do Sebrae Nacional, que reconhece as melhores práticas do artesanato brasileiro. “O apoio do Governo do Estado e das instituições foi essencial para abrir portas e consolidar parcerias”, afirma.

A trajetória da Fibra Morena ganha um novo capítulo: a participação na COP30, em novembro. (Foto:Álvaro Rezende/Secom)

Para Daniele Muniz, analista-técnica do Sebrae/MS, o fortalecimento do artesanato e da economia criativa está diretamente ligado à capacitação. “Nosso foco é profissionalizar a gestão e ampliar a renda dos empreendedores. Muitos começam com talento e transformam isso em negócio”, explica.

Um dos programas de destaque é o Made in Pantanal, plataforma que reúne mais de 200 empreendedores e funciona como vitrine digital de produtos regionais. “Já recebemos pedidos de vários países, especialmente da Europa”, conta Daniele.

A rodada de negócios da Semana do Artesão 2025, promovida pelo Sebrae, movimentou mais de R$ 700 mil em apenas três horas — um reflexo do crescimento do setor e da consolidação do Estado como polo criativo e exportador.