Luís Roberto Barroso surpreendeu o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) ao anunciar, nesta quinta-feira (9), que decidiu antecipar sua aposentadoria. Em um discurso marcado pela emoção, o ministro afirmou que pretende “seguir outros rumos” e dedicar mais tempo à vida pessoal, após mais de uma década na mais alta Corte do país.

A declaração foi feita durante a última sessão plenária com a participação de Barroso. Ele continuará no tribunal na próxima semana apenas para devolver pedidos de vista e finalizar pendências administrativas.

“Chegou o momento de seguir outros caminhos. Não tenho qualquer apego ao poder e gostaria de viver um pouco mais da vida que me resta sem a exposição pública, as obrigações e as exigências do cargo”, afirmou o ministro, visivelmente emocionado.

Durante o discurso, Barroso fez várias pausas, tomando água para conter as lágrimas. “Deixo o tribunal com o coração apertado, mas com a consciência tranquila de quem cumpriu a missão de sua vida”, completou.

Em tom sereno, o ministro aproveitou o pronunciamento para reforçar a importância da empatia e da moderação no debate público. “Fora desta bancada, continuarei a trabalhar por um tempo de paz e fraternidade. E reitero que integridade, civilidade e empatia vêm antes da ideologia e das escolhas políticas. O radicalismo é inimigo da verdade”, afirmou.

Ao final da fala, todos os colegas de tribunal aplaudiram Barroso de pé, em um gesto de reconhecimento pela trajetória do magistrado.

Nova vaga no Supremo - A saída de Barroso abre uma nova oportunidade de nomeação no Supremo Tribunal Federal para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já indicou Cristiano Zanin e Flávio Dino neste mandato.

O ministro deixou a presidência da Corte em setembro, após dois anos à frente do tribunal. Ele havia sinalizado publicamente que considerava se aposentar antes do prazo legal, embora pudesse permanecer até 2033.

Barroso explicou que a decisão foi tomada de forma cuidadosa, ao longo de dois anos, e não tem relação com a conjuntura política atual. Segundo ele, o desgaste da exposição pública e o impacto sobre a família pesaram na escolha.

“Os sacrifícios e ônus da função acabam se transferindo aos familiares e pessoas queridas, que sequer têm qualquer responsabilidade pela nossa atuação”, disse.

O ministro mencionou que sua decisão também leva em conta o bem-estar de seus familiares, especialmente o filho, Bernardo Van Brussel Barroso, que é diretor do banco BTG Pactual em Miami e tem passado períodos no Brasil desde que o governo de Donald Trump suspendeu vistos de integrantes do STF.

Indicado ao STF em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff (PT), Luís Roberto Barroso construiu uma carreira marcada pela defesa de pautas ligadas aos direitos humanos, à transparência institucional e à modernização da Justiça.