Papa Leão XIV denuncia "bolha de luxo" protegida dos pobres
Na exortação Dilexi Te, pontífice faz apelo por mudança de mentalidade e critica desigualdades sociais e econômicas
CRÍTICA A ELITESEm sua primeira exortação apostólica, o papa Leão XIV lançou uma dura crítica ao estilo de vida das elites abastadas, que, segundo ele, vivem “numa bolha de conforto e luxo” enquanto a maioria da população sofre. O documento, intitulado Dilexi Te (“Eu te amei”, em latim), foi divulgado nesta quinta-feira (9), e marca uma linha de continuidade com o pontificado de Francisco.
Leão XIV alerta que, num mundo em que os pobres se multiplicam, aumenta em paralelo “uma elite abastada … vivendo numa bolha … quase num outro mundo em comparação com as pessoas comuns”. Ele pede que o amor aos marginalizados seja o centro da missão da Igreja.
Herança de Francisco e nova direção - O Vaticano informou que parte do texto foi iniciada por Francisco, que faleceu em abril, mas não detalhou a extensão de sua participação. O papa Leão XIV foi quem assinou o documento em 4 de outubro, data simbólica que remete ao dia em que, em 2023, Francisco publicou sua exortação Laudate Deum, sobre a crise climática.
Apesar do vínculo com o antecessor, Leão XIV aprofunda o discurso social. No texto de 49 páginas, organizado em 121 pontos, ele retoma expressões fortes como “a ditadura de uma economia que mata” e a “tirania invisível” dos mercados financeiros. Convida os fiéis a denunciar essa realidade por diferentes meios e reforça a ideia de que a caridade deve estar aliada ao combate às causas estruturais da pobreza.
Leão XIV vai além da crítica social e aborda o comportamento cristão. Ele condena a hipocrisia de cristãos que se “contaminam” por ideologias mundanas e insiste na necessidade de uma nova mentalidade sobre os mais pobres. Segundo ele: “Devemos nos comprometer cada vez mais para resolver as causas estruturais da pobreza”.
No documento, ele também reafirma compromisso com a pauta migratória herdada de Francisco. Ele lamenta que naufrágios com vítimas sejam tratados como “notícias marginais” e evocou o trágico caso do menino sírio Alan Kurdi, achado morto em uma praia do Mediterrâneo em 2015, como símbolo dramático da indiferença global.
Contexto global e dados - O pontífice cita estatísticas do Banco Mundial segundo as quais, em 2024, cerca de 8,5% da população mundial vivia com menos de US$2,15 por dia — valor que delimita a linha da pobreza extrema.
Além disso, Leão XIV afirma que “quando a Igreja se ajoelha ao lado de um leproso, de uma criança desnutrida ou de um moribundo anônimo, ela cumpre sua vocação mais profunda: amar o Senhor onde ele está mais desfigurado”.