Lula e Tarcísio disputam votos em telefonemas por MP 1303 nos bastidores
Disputa interna envolve parlamentares que decidirão se medida sobre tributação será aprovada ou caducará
BATALHA POLÍTICANos últimos dois dias, deputados federais relataram terem sido alvo de telefonemas de alto escalão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, numa intensa disputa de bastidores pela aprovação da Medida Provisória 1303/2025, proposta pela equipe econômica como alternativa à derrota da elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Se aprovada, a MP poderá gerar uma receita estimada em R$ 17 bilhões para o governo em 2026, em pleno ano eleitoral — montante considerado essencial para fechar as contas públicas e cumprir a meta de superávit fiscal do Executivo. A oposição, porém, acusa o governo de usar essa arrecadação adicional para alavancar programas sociais e reforçar a imagem de Lula no ano pré-eleitoral.
Vitória apertada em comissão especial - Na terça-feira (7), em sua primeira etapa de tramitação, a MP venceu com apenas um voto de diferença na comissão especial do Congresso: 13 a 12. O placar acende o alerta sobre a fragilidade da base governista.
De acordo com relatos obtidos sob reserva, a ministra Gleisi Hoffmann fez contato direto com deputados para convencê-los a respaldar o texto. Um desses parlamentares foi Dagoberto Nogueira (PSDBMS), que chegou a conversar com Lula — informação que nega posteriormente. A Secretaria de Relações Institucionais do Planalto ainda não se manifestou oficialmente.
Outra versão conta que o titular da vaga na comissão, Beto Pereira (PSDBMS), enviou voto remoto após pressão política. Foi o governador Tarcísio de Freitas que teria telefonado para ele orientando voto contrário à MP — o que Beto também nega. A articulação política em Mato Grosso do Sul ganhou destaque por envolver forças políticas locais, como a senadora Tereza Cristina (PPMS), com influência no Estado.
Parlamentares federais paulista, especialmente de partidos do Centrão como o União Brasil, também relatam ligações de Tarcísio pedindo posicionamento contrário à MP. O governador, por meio de sua assessoria, rejeitou as acusações: “Neste momento, estou totalmente focado nos desafios e nas demandas de São Paulo”. Mas nos bastidores da Câmara, integrantes da base afirmam que o PSD já teria prometido entregar 25 votos contrários em plenário.
O que prevê a MP 1303 - A MP propõe uma reforma tributária no âmbito das aplicações financeiras: estabelece alíquota fixa de 18% de Imposto de Renda sobre rendimentos financeiros (em substituição ao modelo escalonado), eleva a tributação sobre juros sobre capital próprio (JCP) e altera tributos de fintechs. Também pretendia tributar apostas (bets), mas recuou desse ponto após resistência parlamentar.
Originalmente, o governo estimou arrecadar R$ 20 bilhões, mas reduziu a meta para R$ 17 bilhões, após negociações e concessões.
Na contramão, setores como a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) mantêm posição contrária: apesar de o relator ter revertido a taxação de títulos como LCAs, LCI e debêntures incentivadas, o agronegócio alega que ainda não haver benefícios significativos para o setor.
A MP perde validade nesta quarta-feira (8). Para ser efetivada, precisa ser aprovada nos plenários da Câmara e do Senado e sancionada pelo presidente até o fim do dia. Caso contrário, ela caduqua e perde validade.
Diante do risco de derrota, o governo intensificou o esforço político: o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteve na Câmara conversando com deputados diretamente. Já o relator da medida, Carlos Zarattini (PTSP), acusou o governador Tarcísio de articular contra o texto e disse que parte da base governista “entrou no modo de disputa eleitoral”.
Se a MP for aprovada, o governo terá novo instrumento de arrecadação para 2026. Se não, restará ao Executivo encontrar outras fontes de receita — ou lidar com impacto no ajuste fiscal já em curso.