Antonio Perez | 07 de outubro de 2025 - 17h30

Dólar sobe a R$ 5,35 com incertezas fiscais e fortalecimento da moeda americana no exterior

Mudanças em MP que substitui aumento do IOF e temores sobre arrecadação reforçam pressão sobre o real, que liderou perdas entre moedas latino-americanas

DÓLAR
Dólar. - (Foto: Dimas Ardian/Bloomberg)

O dólar acelerou a alta nesta terça-feira, 7, e encerrou o dia cotado a R$ 5,3501, com valorização de 0,74%, no maior patamar de fechamento em mais de dez dias. O movimento refletiu tanto o fortalecimento da moeda americana no exterior quanto o aumento da cautela entre investidores diante das mudanças na Medida Provisória (MP) que substitui o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Com o avanço desta terça, a moeda americana acumula alta de 0,51% nos primeiros dias de outubro, após queda de 1,83% em setembro. No acumulado de 2024, o real já perde 13,43% frente ao dólar.

Entre as moedas latino-americanas, o real apresentou o pior desempenho do dia e foi a segunda divisa mais desvalorizada entre emergentes, atrás apenas do florim húngaro. Analistas apontam que parte da queda é uma correção após o bom desempenho de segunda-feira, quando o real se destacou entre as moedas emergentes em meio ao contato telefônico entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump.

O Índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, subiu 0,50%, para cerca de 98,63 pontos, refletindo o movimento global de busca por segurança.

A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, avalia que a alta da moeda americana reflete um movimento de aversão global ao risco, impulsionado pela crise política na França, pela fragilidade fiscal no Japão e pela paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, que já dura sete dias.

“Estamos vendo um movimento de aversão global ao risco que leva a um fortalecimento da moeda americana e recuo das taxas dos Treasuries. A paralisação do governo americano leva os investidores a buscarem ativos mais seguros”, explicou Quartaroli.

No cenário doméstico, o principal fator de preocupação vem da MP alternativa ao aumento do IOF, que deve caducar nesta quarta-feira. O texto, relatado pelo deputado Carlos Zarattini (PT-SP), retirou pontos que garantiriam maior arrecadação, como a tributação sobre apostas esportivas, Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA).

Com essas exclusões, a previsão de receita caiu para R$ 17 bilhões, cerca de R$ 3 bilhões a menos do que a estimativa anterior do Ministério da Fazenda.

“Isso está gerando um desconforto no mercado, levando a um aumento da percepção de risco, o que contribui para a alta mais forte do dólar por aqui”, completou Quartaroli.

Com o mercado já fechado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou a nova projeção de arrecadação e afirmou que as negociações com o Congresso envolveram “concessões mútuas”. O ministro disse ainda esperar que o texto seja aprovado ainda nesta terça-feira.

Haddad também tentou amenizar as críticas à exclusão de itens tributários, afirmando que a previsão de R$ 17 bilhões de arrecadação em 2026 “mantém o equilíbrio necessário” para o cumprimento das metas fiscais.

Por outro lado, operadores do mercado relataram desconforto com declarações do ministro mais cedo, quando ele comentou que o governo realiza um mapeamento do sistema de transporte público a pedido do presidente Lula. A fala reacendeu rumores de que o governo pode retomar a proposta de tarifa zero no transporte urbano — ideia que, se confirmada, aumentaria o risco fiscal em um ano pré-eleitoral.

Para a economista-chefe da Lifetime, Marcela Kawauti, o atual patamar do câmbio em torno de R$ 5,30 é insustentável diante das incertezas fiscais e do ambiente externo desafiador.

“Nosso fiscal não é o fim do mundo, mas em algum momento precisará ser corrigido”, afirmou. Segundo ela, há risco de ampliação dos gastos públicos em 2026, o que poderia empurrar a cotação para entre R$ 5,50 e R$ 5,60 nos próximos meses.