José Maria Tomazela | 06 de outubro de 2025 - 17h35

Polícia desmantela esquema de coleta clandestina de sangue de gatos no interior de SP

Procedimento irregular em Monte Alto era oferecido em redes sociais e envolvia anestesia de animais em ambiente insalubre

CRIME CONTRA ANIMAIS
Esquema clandestino usava gatos de rua para coleta de sangue em Monte Alto; operação flagrou animais anestesiados e ambiente insalubre - Foto: Polícia Civil

Um esquema clandestino de coleta e venda de sangue de gatos para uso veterinário foi desmantelado pela Guarda Municipal de Monte Alto, no interior de São Paulo, na noite do último sábado (4). A operação foi deflagrada após denúncia anônima que alertava sobre a prática, amplamente divulgada nas redes sociais com promessa de pagamento de R$ 50 por gato entregue para coleta.

Na residência onde o procedimento era realizado, no bairro Monte Belo, guardas municipais flagraram seis gatos desacordados, além de cinco pessoas — entre elas, a dona do imóvel, um estudante de veterinária e supostos auxiliares. Três dos envolvidos foram detidos, sendo que apenas o estudante permaneceu preso após audiência de custódia.

De acordo com o boletim de ocorrência, os responsáveis usavam doses elevadas de anestésicos sem qualquer controle de peso ou supervisão veterinária. A diretora municipal de Meio Ambiente, Ana Paula Zilli, que acompanhou a ação, classificou o local como “insalubre” e denunciou a ausência total de critérios técnicos.

“Não havia balança, nem equipamentos adequados. Um ambiente completamente irregular. Tudo indica que os gatos recebiam doses altíssimas de anestesia, o que pode ter colocado em risco a vida dos animais”, afirmou.

Anúncios chamavam moradores para entregar gatos

A denúncia partiu de uma mensagem publicada em rede social, onde uma das envolvidas oferecia pagamento por gato encaminhado ao local. “Vocês que têm gatos, tem alguém que paga para tirar sangue de gato. Para cada gato, ela está pagando R$ 50. Vocês estão interessados de ganhar dinheiro, só me avisar”, dizia o anúncio, conforme relatado pela polícia.

No momento do flagrante, três pessoas usavam luvas e trajes veterinários. Um deles, que se identificou como estudante de veterinária, afirmou que recebia R$ 300 por coleta. Já os auxiliares recebiam R$ 100. Segundo o grupo, o sangue extraído era destinado a uma clínica veterinária em São José do Rio Preto, cuja identidade ainda está sendo apurada.

A proprietária do imóvel alegou que apenas cedeu o espaço para “ajudar os animais”, e a responsável pela intermediação das postagens declarou desconhecer a irregularidade da prática.

Sangue contaminado e risco à saúde animal

Após o resgate dos animais, três gatos foram submetidos a exames, e uma fêmea testou positivo para Imunodeficiência Felina (FIV) — uma doença viral que ataca o sistema imunológico dos felinos e é transmitida principalmente pelo contato com saliva ou sangue contaminado.

A descoberta reforça o alerta das autoridades sobre os riscos da manipulação indevida de animais para fins médicos sem qualquer tipo de controle sanitário. “Essa prática coloca outros pets em risco, especialmente quando o sangue é usado em clínicas sem a devida testagem ou rastreabilidade”, explicou Ana Paula Zilli.

Mais três gatos tratados pela dona do imóvel ainda estão sendo procurados para testagem. Os frascos de sangue e equipamentos encontrados no local foram apreendidos e serão periciados.

Legislação falha e brechas no controle sanitário

Apesar de a comercialização de sangue humano ser proibida no Brasil desde 1988, não há regulamentação específica sobre a venda de sangue de animais. Segundo a Polícia Civil, apenas centros médico-veterinários autorizados podem realizar o procedimento, respeitando normas técnicas e sanitárias, além de um rigoroso código de ética.

O caso foi registrado como abuso a animais e segue sob investigação da Delegacia de Polícia de Monte Alto. A reportagem entrou em contato com o Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.