Redação O Estado de S. Paulo | 06 de outubro de 2025 - 14h35

Prisão de "Mascherano" aprofunda investigação sobre assassinato de ex-delegado em Praia Grande

Polícia Civil prende suspeito apontado como líder do PCC no ABC; cinco detidos, dois foragidos e um morto em confronto

ALERTA POLICIAL
Polícia Civil prendeu Felipe "Mascherano" em Cotia; DHPP investiga ligação do suspeito com o PCC no assassinato de Ruy Ferraz Fontes. - Foto: Divulgação/Polícia Civil

A Polícia Civil de São Paulo prendeu, na manhã desta segunda-feira (6), Felipe Avelino de Souza, conhecido como Mascherano, suspeito de participação no assassinato do ex-delegadogeral Ruy Ferraz Fontes. A captura ocorreu em Cotia, na Grande São Paulo. A defesa do suspeito não foi localizada até a publicação desta reportagem.

Segundo as apurações do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Mascherano teria sido a “digital” do Primeiro Comando da Capital (PCC) no crime, sendo apontado como líder da facção na região do ABC Paulista. A corporação descreve a prisão como mais um passo na investigação que já resultou na detenção de cinco envolvidos — entre eles um possível executor — enquanto dois suspeitos permanecem foragidos e outro foi morto em confronto com a polícia no Paraná, conforme informações da Secretaria de Segurança Pública (SSP).

O crime que desencadeou a investigação chocou a Baixada Santista: Ruy Ferraz Fontes foi executado a tiros após encerrar o expediente na Prefeitura de Praia Grande, onde exercia a função de secretário de Administração. Relatos e imagens analisadas pela polícia mostram que o ex-delegado foi alvo de disparos de fuzil; em seguida, o veículo em que estava foi prensado por um ônibus — ação que sugere planejamento e execução com emprego de armamento pesado e coordenado.

Como delegado, Ferraz Fontes ficou conhecido por operações e ações dirigidas contra organizações criminosas, incluindo o PCC. Por isso, as autoridades não descartam motivação ligada ao trabalho anterior do secretário. O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou que “não há dúvidas” sobre o envolvimento da facção no crime — frase que resume a linha de investigação privilegiada pelo DHPP até o momento.

A investigação já identificou ao menos oito suspeitos. Além das prisões e do confronto que resultou em uma morte, as autoridades cumpriram mandados de busca e apreensão em diferentes endereços na Baixada Santista, entre eles residências e locais ligados a servidores municipais.

Mandados e apreensões na Baixada Santista

Na semana passada, como parte da operação, foram cumpridos mandados em Santos, Praia Grande e São Vicente. Entre os alvos estiveram servidor público e subsecretário de Praia Grande, Sandro Pardini, e outros quatro funcionários da prefeitura. Pardini negou envolvimento e, após o cumprimento do mandado, pediu exoneração do cargo.

Das apreensões relacionadas ao caso, destacam-se itens recolhidos na casa de Pardini: celular, computadores, três pistolas, R$ 50 mil em espécie, €1.000 (mil euros) e US$10.000 (dez mil dólares). Também foram encontrados cartões bancários, três registros de armas de fogo e um registro de CAC (Colecionador, Atirador e Caçador). Em um maço de cédulas, havia bilhetes com anotações contendo nomes de uma mulher e um homem; os dólares foram localizados em um envelope de uma corretora de câmbio, segundo o relatório policial.

A Prefeitura de Praia Grande informou que tem conhecimento das frentes de investigação e que colabora com as autoridades. A administração ressaltou que, no momento, além de Pardini, os demais servidores permanecem em seus cargos e que a participação dos servidores nas apurações ocorre “na condição de possibilitar o esclarecimento dos fatos”.

Linha de investigação e possíveis motivações

O DHPP trabalha com duas hipóteses principais, que não se excluem mutuamente: execução vinculada à atuação passada de Ferraz Fontes contra grupos criminosos e motivação relacionada a medidas administrativas tomadas no âmbito da prefeitura. Fontes, como secretário de Administração, cuidava de contratos, do quadro de pessoal e de projetos que envolviam redução de gastos — entre eles estudos sobre substituição da frota por veículos elétricos e medidas para dar mais transparência à gestão. Segundo o prefeito Alberto Mourão (MDB), o secretário exercia atividades com potencial de impacto financeiro e administrativo, o que, segundo o município, pode ter gerado resistências.

A polícia ressalta que a carga de violência, o uso de armamento pesado e a logística do ataque — realizado em via pública e com ampla exposição — apontam para um crime com forte participação de organização criminosa. As investigações, porém, seguem no campo probatório: o DHPP busca agora elencar responsáveis diretos, identificar mandantes e reunir provas que permitam enquadramentos penais robustos.

Até o momento, cinco pessoas foram presas — entre elas um homem apontado como possível executor do crime. Um dos suspeitos morreu em confronto com policiais no Paraná. Dois investigados seguem foragidos. A prisão de Felipe Avelino de Souza (Mascherano) é tratada pela polícia como um achegamento importante para elucidação do caso, em especial por sua suposta posição de comando local dentro da organização criminosa.

A defesa de Mascherano não foi localizada para comentar as acusações nesta segunda-feira. Por ora, ele permanece detido e à disposição das autoridades que conduzem o caso, enquanto o DHPP trabalha na colheita de provas complementares e na oitiva de testemunhas.

Próximos passos da investigação

O DHPP já solicitou perícias complementares, análise de dispositivos apreendidos, quebra de sigilos bancários e telefônicos dos suspeitos e busca consolidar provas documentais e testemunhais que corroborem a participação de cada um dos indiciados. A polícia também tenta localizar e prender os dois foragidos e esclarecer a eventual participação de outras pessoas que possam ter facilitado a execução — desde o planejamento até a logística do transporte de armas e fuga.

Autoridades afirmam que a investigação busca, além da responsabilização penal, desmontar redes de proteção que eventualmente tenham amparado os executores. O trabalho envolve integração entre equipes do DHPP e das delegacias locais, além do apoio de outras unidades da Polícia Civil.

Repercussão política e administrativa

O episódio provocou repercussão política imediata na região. O prefeito de Praia Grande e a cúpula da segurança pública estadual têm sido informados sobre os desdobramentos. A prefeitura reafirmou a cooperação com a polícia e sublinhou que medidas administrativas cabíveis serão adotadas caso investigações apontem responsabilização de servidores ou agentes públicos.

O secretário de Segurança Pública do Estado já sinalizou prioridade máxima ao caso, destacando a gravidade do ataque a um ex-delegado e a necessidade de resposta efetiva ao crime organizado. A Polícia Civil, por sua vez, afirmou que continuará a investigação até a completa elucidação dos fatos e responsabilização dos envolvidos — execução, mandantes e eventuais colaboradores.