Suplente que assume vaga de Frota é réu por peculato na Justiça de SP
Marcos Nena é acusado pelo Ministério Público de empregar funcionária fantasma e pode perder o mandato se for condenado
POLÍTICAO suplente de vereador José Marcos da Silva (PDT), conhecido como Marcos Nena, que deve assumir uma vaga na Câmara Municipal de Cotia, na Grande São Paulo, responde a um processo criminal por peculato. Ele substituirá Alexandre Frota (PDT), cassado na última sexta-feira (3) após condenação por calúnia e difamação contra o ex-deputado Jean Wyllys.
A acusação contra Marcos Nena é antiga, mas continua ativa. Segundo o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), o político teria usado sua influência na prefeitura de Cotia para manter uma funcionária fantasma lotada nas Secretarias de Educação e de Esportes entre abril de 2013 e janeiro de 2017.
De acordo com a Promotoria, a funcionária constava oficialmente como auxiliar de serviços gerais, mas nunca trabalhou de fato nas repartições. Testemunhas ouvidas durante a investigação afirmaram que ela atuava na verdade como porteira de um condomínio no bairro de Caucaia do Alto, em Cotia, ao longo do período em que recebia salário do município.
R$ 140 mil em salários pagos indevidamente
A denúncia aponta que os atestados de frequência da servidora eram falsificados, inclusive com registros de horas extras. A Promotoria entrou com uma ação pedindo a devolução de cerca de R$ 140 mil aos cofres públicos — valor referente aos salários pagos à funcionária enquanto ela exercia outra atividade.
As investigações começaram em 2018, após uma denúncia anônima. O processo criminal foi aceito pelo juiz Sergio Augusto, da Vara Criminal de Cotia, em junho de 2019. Segundo o magistrado, Marcos Nena seria “o mentor intelectual do crime” e teria ajustado com outros envolvidos a assinatura de registros falsos.
“Não é aceitável ou tolerável que um funcionário público deixe de comparecer a seu trabalho, continuando a receber sua remuneração normalmente, como forma de recompensa pela participação em campanha eleitoral de vereador eleito. E mais: que tal funcionário receba horas extras! Trata-se de uma afronta aos princípios da moralidade e da eficiência”, escreveu o juiz ao aceitar a denúncia.
Campanha política como contrapartida
A motivação para o suposto benefício seria política. Segundo o MP-SP, a funcionária, que era concursada da prefeitura, teria sido liberada do expediente por ter atuado como cabo eleitoral de Marcos Nena. Em depoimento, ela confirmou que recebeu a orientação diretamente dele: “Marcos Nena me disse que não precisava ir mais trabalhar na Prefeitura, pois se eu o ‘ajudasse’, ele me ‘ajudaria’”.
A investigação também colheu declarações do síndico do condomínio onde a funcionária atuava, além da diretora da Secretaria de Esportes à época, ambos confirmando que ela não comparecia ao trabalho na prefeitura.
Defesa nega crime e diz que acusação é frágil
A defesa de Marcos Nena afirma que não há provas contra ele e que a acusação “não passa de mera suposição”. Os advogados sustentam que a atuação da funcionária em sua campanha foi voluntária e que a denúncia não se sustenta juridicamente.
Apesar da negativa, o processo segue em andamento e ainda está na fase de citação dos demais envolvidos. Caso condenado, Marcos Nena poderá ter os direitos políticos suspensos, conforme prevê a Lei da Ficha Limpa. Com isso, ele pode perder o mandato antes mesmo de completar sua atuação como vereador titular.