02 de outubro de 2025 - 10h35

Nepal escolhe nova Kumari, a deusa viva de apenas 2 anos

Menina é entronizada durante principal festival hindu do país e viverá em isolamento até atingir a puberdade

MUNDO
Aryatara Shakya, a nova deusa viva, é levada por seu pai em Kathmandu - Foto: Niranjan Shrestha/AP

Aryatara Shakya, de apenas 2 anos e 8 meses, foi escolhida como a nova Kumari do Nepal nesta terça-feira (30). A cerimônia tradicional aconteceu durante as celebrações do Dashain, o principal festival hindu do país, em Katmandu.

A menina foi levada nos braços de parentes por ruas estreitas da capital até o palácio-templo, onde viverá pelos próximos anos. A nova Kumari substitui a anterior, que deixou o posto após atingir a puberdade — momento em que, segundo a tradição, deixa de ser considerada uma deusa viva.

Kumaris são crianças escolhidas entre 2 e 4 anos a partir de rígidos critérios físicos e espirituais. Elas devem ter dentes perfeitos, pele sem manchas, olhar firme e nenhum medo do escuro. São sempre oriundas do clã Shakya, da comunidade Newar, e passam a ser reverenciadas tanto por budistas quanto por hindus nepaleses.

Tradição, devoção e isolamento - A nova Kumari passa a viver quase completamente isolada no templo. Sua rotina permite poucos contatos com o mundo externo, com raras saídas para eventos religiosos anuais. Desde 2017, a tradição passou por adaptações, e agora a deusa pode receber aulas com professores particulares e assistir televisão. Após deixarem o cargo, as ex-Kumaris recebem uma pequena pensão do governo.

A chegada de Aryatara ao templo foi acompanhada por devotos que tocaram seus pés com a testa em sinal de reverência. Ela deverá conceder bênçãos públicas, inclusive ao presidente do país, nesta quinta-feira (2).

“Ontem ela era apenas minha filha, hoje ela é uma deusa”, declarou emocionado Ananta Shakya, pai da nova Kumari. Segundo ele, a mãe da menina teve um sonho durante a gravidez em que a filha aparecia como uma deusa — sinal que, para a família, já indicava sua escolha divina.

A ex-Kumari, que agora tem 11 anos, deixou discretamente o palácio pela entrada dos fundos. Após anos de reclusão, meninas que ocupam o posto muitas vezes enfrentam dificuldades para se adaptar à vida comum, frequentar escolas ou conviver socialmente. Há ainda um estigma popular que afasta pretendentes, já que a lenda diz que quem se casa com uma ex-Kumari morre jovem.