Dólar fecha em alta após oscilar abaixo de R$ 5,30 em meio a cautela política e 'shutdown' nos EUA
Moeda americana encerrou o dia cotada a R$ 5,3286, influenciada por incertezas fiscais no Brasil e impasse orçamentário em Washington
DÓLARDepois de recuar pela manhã e atingir a mínima de R$ 5,2945, o dólar à vista ganhou força à tarde e encerrou esta quarta-feira (1º) em leve alta de 0,11%, cotado a R$ 5,3286. O movimento refletiu tanto fatores externos quanto o ambiente político doméstico, marcado por cautela em relação à votação do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda.
Segundo operadores, a incerteza sobre a compensação fiscal para a proposta discutida na Câmara dos Deputados reduziu o apetite pelo real, enquanto a cena internacional adicionou volatilidade ao câmbio.
A moeda chegou a operar abaixo de R$ 5,30 em paralelo à queda do índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes. Pela manhã, o indicador tocou mínima de 97,462 pontos, pressionado por dados fracos do mercado de trabalho norte-americano. Ao final da sessão, oscilava em 97,700 pontos, em leve baixa.
O início da paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, o chamado shutdown, também entrou no radar dos investidores. O impasse orçamentário no Congresso americano levou a suspensão da divulgação de estatísticas oficiais, com risco de atraso do relatório de emprego (payroll) previsto para sexta-feira (3).
Para Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, o dia foi “bem atípico”. “O real acompanhou em grande parte o cenário externo, mas sofreu um pouco também com um menor apetite por risco com as dúvidas sobre como será aprovado o projeto de isenção do Imposto de Renda”, avaliou.
O relatório ADP, principal indicador do dia, mostrou corte de 32 mil vagas no setor privado em setembro, contrariando as projeções de criação de 50 mil. Além disso, o resultado de agosto foi revisado de 54 mil empregos gerados para perda de 3 mil.
Na avaliação de Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, a paralisação nos EUA “não chega a surpreender o mercado, mas sempre adiciona ruído político e aumenta a percepção de risco”. Ele lembra que a duração do impasse é incerta e pode atrasar dados fundamentais para a política monetária do Federal Reserve (Fed). “Setembro terminou de forma muito positiva para os ativos brasileiros. O momento segue favorável, mas a volatilidade internacional ainda pode trazer impactos”, afirmou.
Já o especialista Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos, destaca que a falta de indicadores oficiais pode limitar a valorização do real. “Se o payroll atrasar, cresce a aversão ao risco e, mesmo com expectativa de corte de juros nos EUA, o dólar tende a se manter sustentado”, explicou.
Durante a tarde, o vice-presidente dos EUA, JD Vance, afirmou acreditar que a paralisação não será longa. Segundo ele, a Casa Branca estaria disposta a negociar e alguns democratas já demonstram abertura para concessões.