Ricardo Magatti | 01 de outubro de 2025 - 13h05

Documentário 'De Virada' estreia na HBO Max com histórias de mulheres no futebol

Produção dirigida por Fernanda Menegotto acompanha bastidores de três protagonistas em um ambiente ainda dominado por homens

ESPORTE E GÊNERO
Árbitra Edina Alves é uma das protagonistas do documentário independente 'De Virada' - Foto: Divulgação/De Virada

O que começou com uma pergunta infantil se transformou em um documentário que promete jogar luz sobre a presença e os desafios das mulheres no futebol brasileiro. De Virada – Bastidores e desafios do futebol, produção independente dirigida pela jornalista Fernanda Menegotto, estreia no dia 7 de outubro na plataforma HBO Max. O filme acompanha três mulheres que ocupam posições de liderança em um esporte historicamente dominado por homens: a dirigente Roberta Fernandes, a árbitra Edina Alves e a jogadora Tamires.

A inspiração para o documentário surgiu em casa, quando a filha de Fernanda, de 9 anos, questionou por que “não havia meninas mandando no futebol”. A resposta veio do irmão mais novo: “A tia Roberta manda no Fluminense.” Ele se referia a Roberta Fernandes, que foi a primeira CEO de um clube de futebol no Brasil, à frente do tricolor carioca entre 2014 e 2017.

O comentário da criança levou Fernanda a investigar mais sobre a trajetória de Roberta, que acabou sendo o ponto de partida para descobrir outras mulheres que também comandam nos bastidores do esporte. “Tem grandes mulheres nesse mercado. Chegamos à conclusão de que era muito importante contar essa história”, afirma a diretora.

Três trajetórias de liderança

Roberta Fernandes está no Fluminense desde 2005, quando ingressou como advogada assistente. Depois foi diretora jurídica e chegou ao posto máximo da administração entre 2014 e 2017. “Quero que meus filhos sejam agentes dessa transformação. Quero que as meninas olhem pra mim e vejam que é possível sim uma mulher estar num cargo de direção do futebol”, disse Roberta durante o lançamento do filme em São Paulo.

A árbitra Edina Alves é a segunda protagonista do documentário. Ela foi a primeira mulher a apitar uma partida do Campeonato Brasileiro masculino e a brasileira com o maior número de jogos em Copas do Mundo. Já Tamires, capitã do Corinthians e referência na seleção brasileira, completa o trio. Cada uma delas tem sua história contada ao longo dos 71 minutos da produção, com foco nos desafios enfrentados em um ambiente ainda marcado por resistência e preconceito.

Inspiração para novas gerações

“Esse projeto nasceu de um papo dentro de casa e evoluiu para se tornar um formato para tentar mudar a cultura do esporte”, explicou Fernanda. A diretora destaca que o objetivo é mostrar que há figuras femininas por trás dos grandes acontecimentos do futebol. “É um espaço prioritariamente ocupado por homens, mas vemos que as mulheres vieram para mudar esse jogo.”

O documentário é uma coprodução da FMM e Elo Studios, com apoio da Transforma e patrocínio da Amstel. A marca, inclusive, realizou uma ação provocativa nas redes sociais antes do lançamento do filme, perguntando aos usuários qual lenda do futebol sul-americano vinha primeiro à mente. Das 993 respostas recebidas, apenas nove mencionaram mulheres — uma estatística que reforça a necessidade de visibilidade para as figuras femininas no esporte.

Ambiente hostil, mas em transformação

Segundo Sabrina Nudeliman, CEO da Elo Studios, o documentário também serve como uma resposta à exclusão histórica das mulheres nos bastidores do futebol. “Diria que nos três casos elas enfrentaram esses preconceitos e lutaram muito. Esse documentário serve de inspiração para todas as mulheres, não só jogadoras”, destaca.

A produção expõe não apenas os marcos profissionais das três protagonistas, mas também os olhares desconfiados, os questionamentos e situações desconfortáveis vividas por elas no exercício de suas funções.

“Quando a gente deixa a mulher ocupar outros espaços estamos dando liberdade para que os homens ocupem outros espaços, trazendo liberdade maior para todos”, conclui Sabrina.