Caio Possati | 01 de outubro de 2025 - 07h00

Mortes por bebidas adulteradas abalam bares de SP e geram onda de desconfiança entre clientes

Após casos de intoxicação por metanol, estabelecimentos reforçam procedência dos produtos e divulgam medidas para garantir segurança

ALERTA
São Paulo registrou três mortes por consumo de bebidas adulteradas com metanol - (Foto: Reprodução/Fhoresp)

As recentes mortes e internações associadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol acenderam um alerta em São Paulo. Em resposta, bares e restaurantes da capital vêm tentando reconquistar a confiança dos clientes ao reforçar a procedência de seus produtos e o rigor nos processos de compra e armazenamento das bebidas servidas.

Na última terça-feira (30), quatro estabelecimentos foram interditados e tiveram garrafas apreendidas pelas vigilâncias sanitárias estadual e municipal. A ligação direta entre esses pontos de venda e os casos de intoxicação ainda está sob investigação, segundo autoridades de saúde.

Desde o final de semana, bares já relatam queda no movimento, cancelamento de reservas e aumento nas perguntas sobre a origem das bebidas oferecidas. A preocupação cresceu após a confirmação, por parte do governo estadual, de sete casos de intoxicação por metanol — sendo que cinco resultaram em morte. Em um deles, a presença da substância já foi confirmada.

Diante desse cenário, estabelecimentos como os bares Posto 6, Ômadá, Patriarca Bar e Salve Jorge, do Grupo Azim, divulgaram nota afirmando que todas as bebidas comercializadas são adquiridas de distribuidores homologados pela multinacional Pernod Ricard, com nota fiscal, lacre de segurança e selo de autenticidade.

“Seguimos rigorosamente os padrões legais e as práticas recomendadas por órgãos competentes para a comercialização e o controle de bebidas”, informou o grupo.

O A.N Rock Bar, na Avenida Nove de Julho, também se manifestou publicamente. O bar afirmou que compra apenas de fornecedores oficiais e aproveitou para alertar os frequentadores sobre os riscos de bebidas falsificadas, lembrando que os destilados suspeitos estão associados aos casos de internação e morte.

Além de reforçarem a procedência dos produtos, alguns estabelecimentos decidiram expor experiências próprias com bebidas adulteradas. É o caso do espaço cultural A Laje, em Perdizes, que revelou ter comprado, por engano, garrafas suspeitas em um mercado. A direção optou por não devolver os produtos, descartá-los e denunciar o caso à Polícia Federal.

“Não queríamos correr o risco de causar mal-estar aos nossos clientes. A produção pirata é claramente desleixada e sem controle de qualidade”, informou o local, que compartilhou capturas de conversas com os vendedores apontando sinais de falsificação.

O Gaz Burning Bar, na Água Branca, reforçou que só compra diretamente dos fabricantes ou de fornecedores indicados por eles. Já o Bar dos Botões, também em Perdizes, declarou arquivar todas as notas fiscais das bebidas e alimentos, além de manter cuidado rigoroso na seleção dos fornecedores.

No segmento de alta coquetelaria, os bares têm adotado uma política de compra mais rígida, com foco em segurança e rastreabilidade. Maurício Porto, sócio do Caledonia Whisky & Co., explica que a casa só adquire bebidas diretamente das marcas ou de distribuidores homologados, mesmo que isso represente um custo mais alto.

“A gente paga mais, mas eliminamos o risco de falsificação. Todos os produtos são adquiridos com nota fiscal e são rastreáveis”, diz.

Segundo ele, bares que mantêm parcerias com grandes marcas já seguem esse padrão por necessidade, e alertou para promoções suspeitas. “Se o preço está muito abaixo, é sinal de que algo está errado.”

Enquanto prosseguem as investigações sobre os casos de envenenamento, o governo paulista segue com ações de fiscalização e orientação. A recomendação é que consumidores evitem produtos de origem duvidosa e que estabelecimentos redobrem os cuidados na aquisição de bebidas alcoólicas.

A expectativa do setor é que, com transparência e reforço na comunicação com o público, o movimento nos bares volte à normalidade e que os clientes se sintam novamente seguros para frequentar os locais.