Fábrica clandestina de bebidas é desmontada em chácara de Americana; 17,7 mil itens apreendidos
Operação da Polícia Civil encontrou estrutura para falsificar e envasar uísque, gim e vodca; metanol não foi localizado no local
FISCALIZAÇÃO RURALUma chácara na zona rural de Americana (SP) foi identificada como ponto de produção e envase de bebidas alcoólicas falsificadas durante operação da Polícia Civil realizada na manhã desta terça-feira (30). Segundo informações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), os agentes apreenderam mais de 17,7 mil unidades entre garrafas e embalagens prontas para comercialização, além de insumos e materiais utilizados na falsificação de uísque, gim e vodca.
A ação teve como alvo três endereços no interior do estado, todos relacionados a uma investigação sobre fabricação e distribuição de bebidas adulteradas. Em Americana, a chácara funcionava como uma espécie de pequena indústria clandestina: havia equipamentos de envase, rotulagem e embalagens prontas para serem distribuídas no varejo informal.
As equipes, que cumpriram mandados de busca e apreensão, não encontraram metanol entre os itens recolhidos no local. O achado tranquiliza em parte as investigações, já que a presença de metanol em bebidas é associada a casos graves de intoxicação e, recentemente, a pelo menos três mortes suspeitas por ingestão de bebidas adulteradas no estado — ocorrências registradas na capital paulista e em São Bernardo do Campo, na região metropolitana.
Investigadores mantêm cautela
Fontes ligadas ao inquérito informam que a ausência de metanol na chácara de Americana não encerra as apurações. As investigações apontam para redes de produção e logística que podem envolver locais distintos para a obtenção de insumos, a adulteração e a distribuição dos produtos finais. Por isso, a Polícia Civil cumpriu mandados em outros dois endereços durante a operação, cujo objetivo é mapear toda a cadeia de atuação dos suspeitos.
A associação entre falsificação de bebidas e casos de intoxicação levanta preocupação sobre a origem e a qualidade dos insumos utilizados pelos criminosos. Em notas públicas divulgadas nas últimas semanas, órgãos de fiscalização e entidades de defesa do consumidor têm reforçado alertas para o risco de consumo de bebidas de procedência duvidosa e orientado sobre procedimentos para identificação de produtos falsificados.
Suspeita de envolvimento do crime organizado
A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) divulgou nos últimos dias uma avaliação preocupante: a associação mencionou a possibilidade de envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) nas operações de adulteração. Segundo a ABCF, há indícios de que o metanol usado em bebidas poderia ser o mesmo produto importado ilegalmente por facções para mistura em combustíveis — uma hipótese que ainda precisa ser confirmada pelas autoridades.
A suspeita da ABCF reacende o alerta para a complexidade do fenômeno. Se confirmada, implicaria não apenas em crime contra o consumidor, mas em uma rede criminosa com atuação em diferentes segmentos, capaz de integrar logística internacional de insumos proibidos, fabricação clandestina e distribuição em larga escala. Até o momento, porém, a Polícia Civil não confirmou oficialmente o vínculo entre a quadrilha investigada e organizações criminosas de maior porte.
Riscos para a saúde e orientações à população
As autoridades de saúde têm reforçado que o consumo de bebidas adulteradas representa risco imediato e potencialmente fatal. O metanol, substância frequentemente usada em fraudes quando disponível, é tóxico e pode causar sintomas que variam desde náuseas e dores abdominais até perda de visão e morte. Por isso, a recomendação é evitar a compra de bebidas sem nota fiscal, sem selo de inspeção ou de origem desconhecida, e reportar suspeitas aos órgãos competentes.
No caso de qualquer sintoma após ingestão de bebida alcoólica — como dor abdominal intensa, visão turva, náusea, vômito ou alteração visual — a orientação é buscar atendimento médico de forma imediata. Fontes oficiais lembram ainda da importância de denunciar estabelecimentos que vendem produtos irregulares às autoridades locais, contribuindo para o trabalho de fiscalização.
Destino dos itens apreendidos e continuidade das apurações
Os mais de 17,7 mil produtos apreendidos em Americana serão encaminhados para perícia técnica a fim de verificar sua composição e origem. A análise laboratorial poderá identificar traços de componentes que indiquem adulteração — ou a ausência desses componentes — e auxiliar na identificação de fornecedores e rotas de abastecimento.
A Polícia Civil informou que as diligências prosseguem visando identificar os responsáveis pela falsificação e os pontos de venda envolvidos na comercialização dos produtos. Prisões preventivas e medidas cautelares podem ser solicitadas pela autoridade policial à medida que novas evidências sejam reunidas.
Impacto econômico e reputacional
Além do perigo à saúde pública, a falsificação de bebidas impacta economicamente setores legais da cadeia produtiva — como indústrias, distribuidores e estabelecimentos comerciais que cumprem normas e pagam tributos. Fabricantes e representantes do setor já têm relatado prejuízos e prejuízo à confiança do consumidor quando a circulação de falsificações se intensifica.
Organizações de defesa do consumidor e entidades setoriais prometem acompanhar o andamento das investigações e buscar medidas para reforçar mecanismos de fiscalização e rastreabilidade de produtos alcoólicos, com ações que vão desde operações conjuntas entre órgãos de segurança até campanhas de conscientização voltadas ao público.
O que se sabe até agora (resumo dos fatos)
Uma chácara na zona rural de Americana (SP) foi usada para falsificar e envasar uísque, gim e vodca.
A Polícia Civil, por meio do Deic, cumpriu mandados de busca e apreensão em três endereços e recolheu mais de 17,7 mil produtos no local.
Não foi encontrado metanol entre os itens apreendidos na chácara.
A ação ocorre após registro de ao menos três mortes suspeitas por intoxicação por metanol em São Paulo nas últimas semanas.
A ABCF levantou a suspeita de que o PCC possa estar envolvido na importação ilegal de metanol usado em adulterações, hipótese que está sendo investigada.