Casos de fimose e parafimose em adolescentes crescem mais de 80% no Brasil
Levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia aponta aumento expressivo de internações; especialistas reforçam importância do diagnóstico precoce
SAÚDEAs internações por prepúcio redundante, fimose e parafimose entre meninos de 10 a 19 anos cresceram 81,58% nos últimos anos, segundo dados do Ministério da Saúde analisados pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). O número de atendimentos passou de 10.677, em 2015, para 19.387 em 2024.
Para o urologista Alexandre Cavalcante, do Hospital Sírio-Libanês de Brasília, dois fatores podem explicar esse salto: o diagnóstico tardio, devido à falta de consultas regulares, ou, ao contrário, o maior acesso à saúde pública, que hoje permite que adolescentes busquem atendimento médico com mais frequência.
O que é prepúcio redundante e fimose
O prepúcio redundante ocorre quando há excesso de pele cobrindo a glande, sem impedir totalmente sua exposição, mas dificultando a higienização adequada e favorecendo infecções.
Já a fimose é caracterizada pela impossibilidade de retrair o prepúcio para expor a cabeça do pênis. Pode ser:
- Primária (fisiológica): presente desde o nascimento, por aderência natural da pele.
- Secundária: adquirida após infecções, inflamações ou traumas que estreitam o prepúcio.
Em muitos casos, a fimose se resolve espontaneamente. Mas, quando não há melhora, o tratamento é cirúrgico.
A dificuldade de higienização pode levar a infecções urinárias, inflamações (balanite e balanopostite), mau cheiro e até câncer de pênis.
Outra complicação grave é a parafimose, quando o prepúcio preso atrás da glande estrangula a região, causando dor intensa e risco de necrose. Nessas situações, é necessária intervenção médica imediata.
Especialistas ressaltam que a fimose não afeta a fertilidade nem causa impotência. O que pode ocorrer é desconforto durante as relações sexuais, dependendo do grau da condição.
Tratamento
O tratamento mais indicado é a postectomia, conhecida como circuncisão. A cirurgia é feita com anestesia, pode exigir sedação em adolescentes e adultos, e costuma ter recuperação rápida, desde que sejam respeitados cuidados como higiene adequada, uso de pomadas cicatrizantes e pausa nas atividades físicas por cerca de 10 dias.
As relações sexuais só devem ser retomadas após a cicatrização completa.
Falta de prevenção entre adolescentes
A SBU alerta que muitos meninos não têm o hábito de consultar especialistas. Em 2022, dados do Ministério da Saúde mostraram que meninas de 12 a 19 anos buscaram atendimento médico 2,5 vezes mais que os meninos da mesma faixa etária. Em consultas especializadas, a diferença foi ainda maior: adolescentes do sexo feminino procuraram o ginecologista 18 vezes mais do que os meninos buscaram o urologista.
Segundo o urologista Daniel Zylbersztejn, coordenador da campanha da SBU, isso acontece porque “os meninos não têm um marco tão evidente quanto a primeira menstruação, o que dificulta a criação do hábito de procurar acompanhamento preventivo”.
Para estimular consultas médicas entre crianças e adolescentes, a SBU promove a campanha #VemProUro, em sua 8ª edição. A iniciativa divulga conteúdos no Instagram @portaldaurologia, com posts, vídeos e lives sobre temas como vacinação contra HPV, varicocele, torção testicular, ejaculação precoce e tamanho do pênis.