30 de setembro de 2025 - 07h00

Estudo liga consumo de álcool a aumento nas mortes por suicídio em 101 países

Pesquisadores apontam que cada litro a mais por pessoa eleva em até 3,6% as taxas de suicídio; especialistas defendem acolhimento e políticas públicas

SAÚDE
Estudo internacional aponta que consumo de álcool aumenta risco de suicídio; especialistas recomendam acolhimento e prevenção - (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Um estudo de pesquisadores canadenses, que analisou 13 pesquisas anteriores em 101 países, reforçou a relação entre o consumo de álcool e o aumento nos casos de suicídio. Segundo a meta-análise, publicada em revista da Associação Médica Americana, cada litro adicional de álcool consumido por pessoa está ligado a um crescimento de 3,59% na taxa de mortes por suicídio a cada 100 mil habitantes.

A pesquisa destaca que muitas dessas mortes poderiam ser evitadas com intervenções individuais e coletivas, incluindo políticas públicas para reduzir a ingestão de álcool.

Especialistas ouvidos ressaltam que o álcool é um depressor do sistema nervoso central e pode agravar quadros de depressão ou desencadear crises em pessoas vulneráveis.

“Não é só a dependência em si. O uso agudo do álcool já provoca sequelas, altera o funcionamento cerebral e aumenta o risco de depressão”, explica a psiquiatra Miriam Gorender, da Associação Brasileira de Psiquiatria.

A psiquiatra Alessandra Diehl, da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas, lembra que em sua pesquisa 21% das pessoas internadas após tentativa de suicídio tinham ingerido álcool antes da autoagressão.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o álcool foi responsável por 18% das mortes autoprovocadas no mundo em 2019, mais de 203 mil óbitos.

No Brasil, o consumo médio em 2019 foi de 7,7 litros por pessoa, acima da média mundial de 5,5 litros. Além disso, dados do Ministério da Saúde mostram que mais de 20% dos adultos fizeram uso abusivo de álcool em 2023. O país tem como meta reduzir esse índice para 17% até 2030.

Para Alessandra Diehl, o desafio é enfrentar a pressão da indústria. “A cerveja é tratada como se nem fosse alcoólica. As políticas precisam mirar na prevenção universal e na redução da demanda”, defende.

Pessoas em sofrimento psíquico podem procurar os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Unidades Básicas de Saúde, UPAs ou hospitais.

O CVV (Centro de Valorização da Vida) também oferece apoio gratuito e sigiloso pelo telefone 188 ou no site cvv.org.br.