27 de setembro de 2025 - 11h30

"Populismo de direita no Brasil mostra sinais de enfraquecimento", avalia cientista político

Em novo livro, Gabriel Rezende analisa a ascensão e os limites do bolsonarismo como quarta onda populista da história brasileira

POLÍTICA
"Momento é de rearranjo político", avalia Gabriel Rezende - (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

No movimento agitado das marés políticas, a onda bolsonarista estaria perto de virar espuma. A metáfora é usada pelo cientista político Gabriel Rezende, doutor pela PUC-Rio, que vê no fenômeno liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro uma forma de “populismo de direita” hoje em rota de enfraquecimento.

Rezende lança, em outubro, o livro A ascensão do populismo de direita no Brasil (Editora Appris), no qual situa o bolsonarismo como a quarta onda populista da história nacional, após o populismo getulista (anos 1930-60), o populismo neoliberal de Fernando Collor (anos 1990) e o populismo de esquerda representado por Lula, Chávez e Kirchner nos anos 2000.

Segundo o autor, a crise política, econômica e social entre 2013 e 2016 criou a “tempestade perfeita” para o surgimento do bolsonarismo, marcado por cinco pilares: a pauta anticorrupção da Lava Jato, o apoio de lideranças evangélicas, a adesão do agronegócio, o uso estratégico das redes sociais e a aproximação com militares.

“Bolsonaro foi eleito porque conseguiu amalgamar insatisfações diversas sob um discurso que opunha o povo à velha política”, explica Rezende.

Para o cientista político, o fracasso da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 e a atuação do Judiciário como contrapeso enfraqueceram a narrativa da extrema direita. “Um populismo de direita perde força quando sua principal figura não pode falar”, diz, em referência às restrições judiciais impostas a Bolsonaro.

Rezende aponta que o cenário abre espaço para disputas internas no campo conservador — entre nomes como Michelle Bolsonaro, Silas Malafaia, os filhos do ex-presidente e o governador paulista Tarcísio de Freitas. Já no campo progressista, avalia que o presidente Lula ainda não construiu uma sucessão clara.

“O momento é de rearranjo político. Na política, uma semana é um mundo. Podem acontecer mil coisas até 2026”, conclui o pesquisador.