Agência Brasil | 26 de setembro de 2025 - 07h50

Estudo da Fiocruz alerta para riscos da dengue, zika e chikungunya durante a gravidez

Pesquisa com mais de 6 milhões de nascimentos no Brasil mostra que infecções por arboviroses elevam chances de parto prematuro, anomalias e morte neonatal

SAÚDE
Infecções por Aedes aegypti elevam risco de complicações no parto - (Foto: Fotorech/Pixabay)

As doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya, não representam apenas uma ameaça sazonal à saúde pública. Um estudo recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostrou que essas infecções virais, quando ocorrem durante a gravidez, estão fortemente associadas a complicações graves tanto para as gestantes quanto para os recém-nascidos.

A pesquisa, publicada na revista científica Nature Communications, analisou dados de mais de 6,9 milhões de nascimentos no Brasil entre 2015 e 2020. Os resultados confirmam que a infecção por esses vírus durante a gestação está relacionada a um aumento significativo de partos prematuros, baixo peso ao nascer, escore de Apgar reduzido (avaliação da saúde do bebê logo após o nascimento) e até morte neonatal.

A pesquisa foi conduzida por cientistas do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) e é considerada uma das mais amplas já realizadas sobre o impacto das arboviroses na saúde materno-infantil.

Embora os efeitos da zika na gestação sejam amplamente conhecidos — especialmente após o surto de microcefalia em 2015 — o estudo mostra que dengue e chikungunya também têm consequências sérias, incluindo o aumento do risco de anomalias congênitas e óbitos neonatais.

“A zika não é a única vilã”, alerta o pesquisador Thiago Cerqueira-Silva, um dos autores do estudo. “Demonstramos que a chikungunya e a dengue também aumentam o risco de morte neonatal e alterações no desenvolvimento fetal. Isso muda a forma como devemos olhar para essas infecções em gestantes.”

Riscos variam conforme o trimestre da gestação

O estudo também identificou que os riscos à saúde do bebê variam dependendo do momento em que a infecção ocorre durante a gestação. Isso sugere que diferentes mecanismos biológicos atuam ao longo dos trimestres, o que reforça a importância de prevenção contínua durante toda a gravidez.

No caso da dengue, por exemplo, foi observada uma ligação direta com o baixo peso ao nascer, partos prematuros e anomalias estruturais. Já a zika apresentou o risco mais elevado para má-formações congênitas, que dobram a chance de ocorrência quando comparadas a gestações sem infecção. A chikungunya, por sua vez, também foi associada ao aumento de óbitos neonatais e alterações congênitas.

O impacto das arboviroses na gestação é ainda mais severo em comunidades com maior vulnerabilidade social, onde a exposição ao mosquito é mais frequente e o acesso a cuidados médicos, limitado. Além disso, o custo financeiro do tratamento de crianças com complicações ao nascer recai principalmente sobre famílias de baixa renda.

“É fundamental pensar na saúde pública com um olhar para a desigualdade. O peso das arboviroses não é igual para todos”, reforça o pesquisador.

Prevenção e vacinação 

Com base nos resultados, os pesquisadores defendem o fortalecimento das ações de prevenção, especialmente durante a gravidez. Isso inclui a ampliação da cobertura vacinal contra a dengue e a inclusão da vacina contra a chikungunya no calendário nacional de imunização.

“Devemos garantir que essas vacinas estejam disponíveis de forma gratuita e ampla, independentemente da condição socioeconômica da gestante”, defende Thiago Cerqueira-Silva.

Além disso, ele destaca a necessidade de campanhas de informação sobre os riscos da dengue e da chikungunya na gravidez, já que atualmente os efeitos da zika são os mais divulgados.

O estudo da Fiocruz reforça que combater o Aedes aegypti é também uma forma de proteger mães e bebês, e que a vigilância não pode se limitar a surtos pontuais ou a um único vírus.