Pastor é investigado por call center que vendia 'curas e milagres' por até R$ 1,5 mil no Rio
Operação Blasfêmia aponta esquema de R$ 3 milhões em dois anos; atendentes se passavam pelo religioso em conversas com vítimas
INVESTIGAÇÃOUm pastor suspeito de comandar um call center para vender falsas curas e milagres foi alvo de uma operação conjunta da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro nesta quarta-feira (24), em Niterói, Região Metropolitana do Rio.
O esquema, segundo as investigações, teria movimentado pelo menos R$ 3 milhões em dois anos. O líder religioso, identificado como Luiz Henrique dos Santos Ferreira, conhecido como Pastor Henrique Santini ou Profeta Santini, foi detido e liberado com tornozeleira eletrônica. Outros 22 integrantes do grupo foram indiciados.
A Operação Blasfêmia
A ação, batizada de “Operação Blasfêmia”, cumpriu mandados de busca e apreensão em diferentes endereços, incluindo a central de marketing instalada no centro de Niterói.
As apurações começaram em fevereiro deste ano, quando agentes identificaram um call center com 42 atendentes realizando atendimentos virtuais. Foram apreendidos 52 celulares, seis notebooks e 149 chips pré-pagos.
De acordo com o delegado Luiz Henrique Marques Pereira, titular da 76ª DP, o objetivo do grupo não era religioso, mas financeiro:
“O que realmente motivava o grupo criminoso não era o atendimento religioso, mas a exploração financeira da fé, sem nenhum escrúpulo.”
Como funcionava o esquema
As investigações revelaram uma estrutura sofisticada de telemarketing religioso. Funcionários eram contratados por meio de plataformas de anúncios on-line e orientados a se passar pelo pastor durante atendimentos pelo WhatsApp.
Com o uso de áudios gravados previamente de Ferreira, os atendentes prometiam curas, bênçãos e milagres condicionados a depósitos via Pix.
Os valores cobrados variavam entre R$ 20 e R$ 1,5 mil, conforme o “tipo de oração” solicitada;
Os atendentes recebiam comissões proporcionais à arrecadação e trabalhavam sob metas semanais rígidas;
Aqueles que não atingiam os valores estipulados eram dispensados.
Para dificultar o rastreamento, o grupo utilizava uma rede de contas bancárias em nome de terceiros.
Dinheiro apreendido
Durante as diligências desta quarta, os policiais encontraram grandes quantias em espécie na casa do pastor:
R$ 32,4 mil em reais;
1.800 euros;
750 libras egípcias;
90 dólares.
Além disso, foram bloqueadas contas bancárias e sequestrados bens vinculados ao líder religioso e seus aliados.
Personagem das redes sociais
Com mais de 9 milhões de seguidores, Ferreira se apresenta no Instagram como “Profeta Henrique Santini”, publicando mensagens como:
“Você acaba de cair na bênção da prosperidade”
“O telefone vai tocar e uma notícia muito aguardada vai chegar. Alegria para o seu coração. Confirme digitando Amém.”
À polícia, ele afirmou ser vítima de perseguição religiosa. A defesa ainda não se manifestou.
Acusações
O pastor e seus comparsas respondem pelos crimes de:
Estelionato
Charlatanismo
Curandeirismo
Associação criminosa
Crime contra a economia popular
Corrupção de menores
Lavagem de dinheiro
As investigações continuam para identificar novas vítimas e possíveis integrantes da organização.