Aeronave irregular cai no Pantanal com vítimas ilustres: voo clandestino exposto
O monomotor caiu ontem (23) em Aquidauana; ele já havia sido apreendido em operação contra táxi aéreo clandestino em 2019
AVIAÇÃO E SEGURANÇANo fim da tarde de ontem, terçafeira (23), um monomotor Cessna tipo Aircraft 175 (prefixo PTBAN) despencou na zona rural de Aquidauana, no Pantanal sulmato-grossense, deixando quatro vítimas fatais. Entre os mortos estavam o piloto Marcelo Pereira de Barros, de 59 anos, o documentarista brasileiro Luiz Ferraz, o arquiteto paisagista chinês Kongjian Yu e Rubens Crispim Jr.
O que torna o acidente ainda mais grave é que a aeronave nunca teve autorização para operar como táxi aéreo — segundo o Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), ela não estava habilitada para transportar pessoas mediante pagamento. E mais: já havia sido alvo da Operação Ícaro – fase Iuris, em 2019, durante ação policial em Aquidauana. Na época, o avião chegou a ser apreendido sob suspeitas de operar ilegalmente, com indícios de adulterações e falhas nas normas de segurança.
O advogado da defesa, Djalma Silveira, argumenta que o piloto teria usado a aeronave de maneira esporádica, para emergências em fazendas vizinhas — “transportar funcionário ferido, por exemplo” — e que eventuais irregularidades se referiam a itens menores, como uso de bateria de automóvel ou falta de registros exigidos. Ele nega que Marcelo mantivesse voos clandestinos rotineiramente.
Fontes ligadas à aviação ouvidas pela reportagem afirmam que, mesmo para voos panorâmicos, é necessário apresentar plano de voo, autorização do DECEA e coordenação com o Cindacta 2, especialmente em regiões de baixo enlace de rádio. Um piloto comentava: “até para ligar o motor na pista precisa autorização do controle do solo”.
No momento, investigações estão sob responsabilidade da Polícia Civil e do Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco). O acesso remoto ao local da queda e as condições climáticas pantaneiras dificultam o trabalho pericial.