'Sustentabilidade é o caminho para competir e vencer na cadeia produtiva'
CEO da MSD Animal destaca a importância da sustentabilidade para competir no mercado e como o Brasil pode ser exemplo na produção de proteína sem desmatamento
DELAIR BOLISA chave virou por completo. Antes considerada apenas uma licença para operar, a sustentabilidade hoje é um pilar essencial para as empresas competirem e vencerem dentro de suas respectivas cadeias produtivas, diz Delair Bolis, CEO da MSD Animal - empresa que desenvolve, fabrica e comercializa medicamentos e serviços veterinários.
Em entrevista à série Era do Clima Rumo à COP-30, o executivo afirmou estar otimista com a reunião no Brasil. Ele destaca que os holofotes sobre o evento internacional servem para mostrar como o Brasil pode ser um exemplo para o mundo naquilo que ele faz muito bem, que é a produção de proteína animal.
“Vamos conseguir mostrar como produzimos proteína animal baseada na sustentabilidade sem ter de destruir a floresta amazônica”, afirma o executivo. Confira a entrevista:
Sobre a COP-30, qual a sua expectativa como executivo e cidadão?
O executivo e o cidadão, há muito tempo, estão misturados. Mas você me deu a oportunidade de falar sobre otimismo. Aprendi na minha vida que quando olho para um copo, independentemente de estar meio cheio ou meio vazio, olho para a água que está dentro do copo e a bebo para celebrar. Para desfrutar o líquido que está dentro do copo e, assim, ter a oportunidade de colocar mais líquido nele. Por que estou falando isso? Vejo com muito otimismo a realização da COP-30 no Brasil. Talvez a gente não atenda e não atinja 100% das expectativas e talvez existam interesses políticos individuais que não conseguimos controlar. Podemos não ter controle sobre a agenda da COP-30, mas temos uma oportunidade como indivíduo e organização de fazer a COP-30 mais um exemplo para o mundo e mostrar o que o Brasil faz e faz muito bem, que é a produção de proteína animal. Se por meio dessa COP nós construirmos uma agenda positiva, e estou otimista que vamos fazer, vamos conseguir mostrar como produzimos proteína animal baseada na sustentabilidade. Sem ter de destruir a floresta amazônica.
A MSD Animal tem alguma participação direta com os resultados da COP-30?
Temos a cadeira da vice-presidência da mesa brasileira de pecuária sustentável. Por causa disso, estamos apoiando a COP-30 e um projeto do governo do Estado do Pará voltado para a identificação e rastreabilidade bovina. Os primeiros resultados dessa iniciativa devem ser apresentadas durante a COP-30.
A rastreabilidade é, hoje, fundamental para os negócios?
Ela oferece duas oportunidades. A primeira é poder olhar para dentro da sua organização, do seu processo, para melhorar suas rotinas. A segunda é a possibilidade de segmentar seu processo. Seja em relação a um produto, seja em relação ao seu mercado. Ela também abre caminho para você conversar com o consumidor, que está cada vez mais exigente, responsável e participativo. A rastreabilidade é fundamental até para as questões comerciais.
Quais iniciativas práticas sustentáveis estão em andamento hoje no grupo?
Temos metas claras de redução de emissão de gases de efeito estufa, alinhadas ao Science Based Target Initiative (SBTi). Desde 2015, reduzimos em torno de 12% essas emissões e temos o compromisso de reduzir mais 46% até 2030. Temos 26 fábricas de biofarma e 27 fábricas de tecnologia no mundo. Dessas, 50% já usam energia renovável — eólica, solar ou biogás. O compromisso é que, em no máximo 15 anos, 100% usem energia renovável. No Brasil, entre saúde humana e saúde animal, temos quase mil veículos próprios, e 40% deles já são de baixa emissão. Outro exemplo prático foi a redução do tamanho das embalagens do Bravecto, nosso principal produto para animais de companhia. Reduzimos 20% no uso de papel e 40% no peso e na quantidade de bula. No caso dos animais de produção, mudamos a embalagem de uma vacina para avicultura: saímos do vidro e passamos a usar alumínio reciclável. Nos últimos três anos, isso representou a economia de 44 toneladas de vidro e a produção de 3,2 a 3,5 toneladas de alumínio reciclável. Outro exemplo é a tecnologia Idal, para vacinação de suínos sem agulha. Já vacinamos 35 milhões de suínos no Brasil com ela, o que nos trouxe economia de 69 toneladas de gelo gel, 10 toneladas de embalagens plásticas, 4 toneladas de isopor e quase 1,5 tonelada de agulhas que deixaram de ser usadas.
Essas ações fecham a conta no final das contas?
Quando você faz o bem sem olhar a quem, o bem volta para você. A sustentabilidade não é mais uma licença para operar, e sim para competir e vencer na cadeia produtiva. Quando colocamos na balança o que economizamos, vidro, logística reversa e embalagens, a conta fecha positivamente. Além disso, tem o aspecto da motivação do colaborador. O orgulho de fazer parte de uma empresa que se preocupa com a sociedade traz mais produtividade, mais felicidade no ambiente de trabalho e mais longevidade para a empresa.
E no setor como um todo, a sustentabilidade já é um tema consolidado?
A indústria, seja de saúde animal ou não, já entende que ser sustentável está conectado à eficiência operacional. Quando você melhora a produtividade, naturalmente se torna mais sustentável. Existem setores mais avançados, como o de defensivos agrícolas, que criou um ecossistema eficiente de logística reversa. Fechar os olhos para a sustentabilidade hoje é fechar os olhos para o futuro. Ela deixou de ser ideológica e passou a ser a razão por trás do propósito do negócio. O consumidor não quer mais saber apenas o que está comprando, mas como aquilo foi produzido e se conecta com o propósito dele.
Como a MSD Saúde Animal desenvolve seus produtos?
Temos 20 centros de pesquisa espalhados pelo mundo. Grande parte do nosso desenvolvimento é próprio e, para isso, investimos, em média, 20% do nosso faturamento. Quantia que pode variar de ano para ano. Os recursos são reinvestidos em novos produtos, novas moléculas e soluções. Partimos de três tipos de inovação. Aquela mais arriscada, em que realmente inventamos algo, nós também praticamos uma inovação incremental, que melhora o que já existe e, ainda, temos a linha da inovação disruptiva, que torna obsoleto o que já existe. Além disso, temos vários parceiros, joint ventures, por exemplo, para o desenvolvimento de novas moléculas. Pegamos o produto e levamos ele para uma escala de desenvolvimento. O nosso core é saúde, bem-estar e produtividade animal.
E qual o passo mais recente em termos de inovação?
De 2019 para cá investimentos ao redor de US$ 4 bilhões em uma nova tecnologia que nos permite ‘conversar’ com os animais. É um conjunto de tecnologias que vão desde a identificação dos animais e passa pelo monitoramento e vai até a rastreabilidade animal. Isso tudo faz conectarmos com o que nós verdadeiramente queremos ser.
Uma empresa de tecnologia?
Nós somos, com muita humildade, uma empresa líder e pioneira em prevenção animal, que é o nosso verdadeiro core. O foco é prevenir enfermidades e não tratá-las. No futuro, queremos, verdadeiramente, ser reconhecida pelo uso da tecnologia e da inteligência de dados para a gente poder melhorar ainda mais o bem-estar do animal e a produtividade animal. Já temos tecnologia que monitoram o comportamento do animal 24 horas por dia.