Dólar sobe com tensão entre EUA e Brasil após sanções à esposa de Moraes
Discurso de Lula na ONU e medidas de Washington contra autoridades brasileiras aumentam cautela no câmbio e elevam cotação da moeda americana
DÓLARO dólar iniciou a semana em alta moderada, fechando esta segunda-feira, 22, cotado a R$ 5,3381, com avanço de 0,32%. O movimento foi na contramão do desempenho da moeda americana no exterior e reflete o aumento da tensão diplomática entre Estados Unidos e Brasil, agravada pela imposição de sanções a autoridades brasileiras em véspera do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU.
No momento de maior estresse durante o dia, a cotação chegou a atingir R$ 5,3660, mas desacelerou à tarde com a avaliação de que, por ora, as medidas adotadas por Washington se restringem a algumas figuras específicas do Judiciário brasileiro.
As tensões se intensificaram após o governo norte-americano anunciar, com base na Lei Magnitsky, sanções contra Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ela terá seus eventuais bens em território norte-americano bloqueados. Além disso, os vistos de entrada nos EUA do advogado-geral da União, Jorge Messias, e de outras autoridades do Judiciário foram revogados.
O Ministério das Relações Exteriores reagiu de forma contundente. Em nota oficial, o Itamaraty classificou a ação como uma “nova tentativa de ingerência indevida em assuntos internos brasileiros” e demonstrou “profunda indignação”.
A expectativa em torno do pronunciamento do presidente Lula nesta terça-feira, 23, na ONU, adiciona um componente de incerteza ao mercado. Para a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, o câmbio passa por um movimento natural de correção após semanas de valorização do real. “O mercado está operando com cautela por conta da agenda de indicadores desta semana, com ata do Copom e IPCA-15 no Brasil, além de dados de inflação e atividade nos EUA”, afirma.
No cenário externo, o índice DXY — que mede o desempenho global do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes — recuou levemente, girando próximo dos 97,3 pontos ao fim da tarde. A moeda americana caiu frente à maioria das divisas emergentes, mas subiu em relação ao peso mexicano e ao peso chileno.
Apesar da alta recente, o dólar ainda acumula queda de 1,55% frente ao real em setembro e recuo de 13,63% no acumulado de 2025. Essa valorização do real tem sido impulsionada por fatores como o diferencial de juros e o fluxo de capital estrangeiro.
A política monetária americana continua sendo um fator de atenção para os mercados. Após o corte de 25 pontos-base na taxa de juros promovido pelo Federal Reserve na “superquarta” da semana passada, dirigentes do banco central dos EUA demonstraram visões distintas.
Alberto Musalem, presidente do Fed de St. Louis, pediu cautela e disse ver pouco espaço para cortes adicionais. Já Stephen Miran, novo integrante do Fed indicado por Donald Trump, defendeu um corte maior — de 50 pontos — e sugeriu que os juros ideais estariam entre 2% e 2,5%.
Com a expectativa de mais cortes de juros nos Estados Unidos, o BTG Pactual revisou para baixo sua projeção de câmbio para o fim de 2025: de R$ 5,40 para R$ 5,20. A projeção para 2026 também foi ajustada, de R$ 5,60 para R$ 5,50.
Iana Ferrão, economista do banco, aponta que a "diversificação gradual" das reservas internacionais e a normalização de instrumentos de proteção cambial também devem reduzir a demanda por dólar no médio prazo. “Nesse contexto, o real deve acompanhar a trajetória do DXY, beneficiado pelo elevado diferencial de juros doméstico e por condições financeiras globais mais favoráveis”, explica.