Lavínia Kaucz | 22 de setembro de 2025 - 17h15

Governo Lula pede que STF autorize cobrança de tributo sobre tributo para conter perdas bilionárias

AGU quer encerrar milhares de ações judiciais sobre base de cálculo do PIS/Cofins que podem gerar impacto de R$ 117,6 bilhões aos cofres públicos

ECONOMIA
Supremo Tribunal Federal (STF). - (Foto: Wilton Junior/Estadão)

A Advocacia-Geral da União (AGU) protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) solicitando que a Corte reconheça como legal a prática de incluir tributos na base de cálculo de outros tributos — o popular “tributo sobre tributo”. O pedido, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi feito na última sexta-feira, 19, e visa estancar uma onda de ações judiciais que contestam a cobrança.

Segundo a AGU, o objetivo é pacificar a jurisprudência e evitar prejuízos que, somados, podem ultrapassar R$ 117,6 bilhões, conforme estimativas da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). A ação foi sorteada para relatoria da ministra Cármen Lúcia, mesma que relatou a chamada “tese do século”, em 2017, quando o STF decidiu pela exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins — decisão que já gerou perdas bilionárias à União.

A decisão de 2017, que beneficiou as empresas ao excluir o ICMS da base do PIS/Cofins, gerou um efeito cascata no Judiciário. Desde então, mais de 113 mil processos foram abertos com argumentos semelhantes, contestando a legalidade de outros tributos na composição da base de cálculo. Os principais questionamentos hoje envolvem:

Esses temas aguardam julgamento no STF, e seus desfechos poderão representar novos prejuízos bilionários ao erário público, caso o entendimento seja novamente favorável aos contribuintes.

No pedido ao STF, a AGU sustenta que a decisão de 2017 sobre o ICMS não torna automaticamente inconstitucional qualquer incidência de um tributo sobre outro. O órgão destaca que o julgamento analisou exclusivamente as especificidades do ICMS e que tentar aplicar a mesma lógica a outros tributos representa uma distorção do entendimento da Corte.

A petição também adverte sobre os riscos de se manter a insegurança jurídica gerada pelas interpretações divergentes em tribunais inferiores, que têm dado decisões conflitantes em casos semelhantes. A AGU reforça que a jurisprudência está em disputa e que apenas o STF pode pôr fim ao impasse.

Outro ponto importante mencionado na petição é a Reforma Tributária aprovada em 2023 e cuja implementação deve ocorrer até 2027. O novo modelo tributário prevê a unificação de tributos e o fim da prática de cobrança em cascata, o que, na avaliação da AGU, tornará a atual discussão jurídica obsoleta.

“Após esse marco temporal, a discussão que dá origem a toda a celeuma narrada nesta petição inicial perderá sua causa, passando a viger um novo ordenamento sobre a matéria, desapegado dos esqueletos do passado”, afirma um trecho do documento.