Diferença salarial no setor público revela disparidade entre poderes e esferas
Salários mais altos estão no Judiciário e no nível federal, enquanto Executivo municipal concentra as menores remunerações
SERVIÇO PÚBLICODados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelam um cenário desigual nos salários pagos ao funcionalismo público brasileiro. As maiores remunerações estão concentradas no Judiciário e na esfera federal. Por outro lado, os menores vencimentos são pagos no Executivo municipal, justamente onde está a maior parte dos servidores.
De acordo com o Atlas do Estado Brasileiro, publicado pelo Ipea, servidores do Judiciário recebem, em média, R$ 26,2 mil por mês, valor bem superior ao registrado no Legislativo (R$ 17,2 mil) e no Executivo (R$ 9,3 mil).
Quando se considera o nível da Federação, os salários também apresentam forte variação. No topo estão os servidores federais com os maiores vencimentos, média de R$ 21 mil no grupo mais bem pago. Em seguida vêm os estaduais, com R$ 11,9 mil. Os municipais aparecem na base da pirâmide, com R$ 6,7 mil entre os salários mais altos.
O pesquisador Felix Lopez, coordenador do estudo no Ipea, afirma que o Judiciário lidera a desigualdade salarial mesmo entre seus quadros de menor remuneração. Além disso, destaca que o sistema concentra o maior número de servidores com salários acima do teto constitucional.
Em 2018, a Câmara dos Deputados abrigava 70% dos supersalários do Legislativo. No Judiciário, o Ministério Público da União representava mais de 40% dos vínculos acima do limite legal. No Executivo, 87% dos salários acima do teto estavam no Ministério das Relações Exteriores.
Entre as carreiras mais bem remuneradas, os procuradores do Judiciário estadual ocupam o topo, com salários médios de R$ 40 mil mensais. Também estão entre os primeiros da lista juízes, auditores da Receita Federal e outros membros do alto escalão do serviço público federal.
Na ponta oposta, estão cargos como supervisor de crédito no Executivo estadual, com salário médio de apenas R$ 359. Gestores municipais de segurança ganham, em média, R$ 890, e garçons contratados por prefeituras recebem cerca de R$ 1.040 por mês.
Além das diferenças salariais, o estudo aponta que o perfil do funcionalismo também muda de acordo com o nível da administração. Nos municípios, onde estão concentrados os menores salários, a escolaridade média e os processos seletivos são menos rigorosos em comparação com os do serviço público federal.
A proposta de reforma administrativa em discussão na Câmara dos Deputados prevê mudanças no sistema de remuneração, com tabelas salariais unificadas e restrições à criação de benefícios que geram supersalários.
Para Felix Lopez, o país precisa enfrentar a disparidade salarial, mas com cautela. “Não dá para aplicar regras genéricas sem considerar a realidade local. Há municípios com orçamentos limitados e necessidades diferentes. Sem essa visão, as mudanças podem ser contraproducentes”, alerta.
Enquanto o Brasil se prepara para gastar cerca de R$ 1,7 trilhão com servidores públicos em 2025, o debate sobre salários, eficiência e equilíbrio fiscal segue no centro das discussões.