21 de setembro de 2025 - 12h00

Dermatologistas defendem atenção especial aos cuidados com a pele negra no Brasil

Profissionais alertam para falta de treinamento médico e avanços recentes em pesquisas e produtos voltados à diversidade

SAÚDE
Dermatologistas defendem inclusão de protocolos específicos para pele negra na medicina e alertam para prevenção de doenças. - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O médico Thales de Oliveira Rios conviveu desde a adolescência com oleosidade da pele, acne e manchas sem encontrar resultados satisfatórios nos tratamentos que tentou ao longo dos anos. Foi somente após procurar um colega dermatologista especializado em pele negra que sua realidade mudou.

“Um belo dia, resolvi ir ao consultório dele, e a coisa mudou da água para o vinho. Com o tratamento adequado, em três, quatro meses ficou tudo diferente. Melhorou bastante”, contou.

Thales é um homem negro e até então não sabia que os cuidados com a pele precisavam ser adaptados às especificidades desse tipo de pele.

Diferenças que fazem a diferença

O colega citado é Cauê Cedar, chefe do Ambulatório de Pele Negra do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Ele explica que a formação médica ainda falha ao não incluir a diversidade étnica no estudo de doenças dermatológicas.

“Os materiais que educam os médicos são majoritariamente feitos com pessoas de pele clara. Muitos médicos não têm treinamento específico para identificar como as condições podem se apresentar na pele negra”, afirma.

Entre as especificidades, Cedar cita a maior tendência a manchas, o risco de cicatrização hipertrófica e queloides e os cuidados específicos com cabelos cacheados e crespos.

Barreiras na indústria

Segundo o especialista, a indústria de cosméticos e produtos dermatológicos também demorou a atender essa demanda.

“Os protetores solares com cor não se adequavam às tonalidades da pele negra, e os sem cor deixavam um fundo esbranquiçado, acinzentado. Isso diminuía a adesão ao uso. Só recentemente começaram a desenvolver produtos adaptados à diversidade da população”, exemplifica.

Avanços recentes

A mobilização de profissionais negros tem gerado mudanças importantes. Pela primeira vez, o Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia realizou em 2025 uma atividade dedicada exclusivamente aos cuidados com a pele negra. Além disso, a regional do Rio de Janeiro da entidade criou o Departamento de Pele Étnica, coordenado por Cedar e outros especialistas.

Para a presidente da regional, Regina Schechtman, o passo era necessário:
“Qualquer médico ou profissional da saúde deve acrescentar esse conhecimento à sua prática. A dermatoscopia, por exemplo, é diferente em cada tom de pele, e os médicos precisam saber interpretar.”

Saúde e autoestima

Schechtman também destacou que doenças de pele impactam diretamente a autoestima dos pacientes e lembrou que o risco de câncer de pele também atinge pessoas negras.

“Apesar do risco ser maior em quem tem menos pigmentação, isso não significa que pessoas negras não precisem se proteger da radiação ultravioleta”, completou.

A criação de espaços de estudo e a adaptação da indústria são passos importantes para garantir que a dermatologia no Brasil reflita a diversidade da população, que é majoritariamente preta e parda, segundo o IBGE.