Em apenas dois dias de funcionamento, o plano Brasil Soberano aprovou R$ 1,2 bilhão em financiamentos para empresas brasileiras impactadas pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos. A medida faz parte de um pacote de R$ 40 bilhões em crédito anunciado pelo governo federal para socorrer exportadores afetados pela cobrança de taxas de até 50% sobre produtos brasileiros.

O balanço foi divulgado na noite de sexta-feira (19) pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No período, 533 empresas apresentaram pedidos que somaram R$ 3,1 bilhões. Do total, R$ 1,9 bilhão segue em análise.

O programa destina R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) e outros R$ 10 bilhões de recursos próprios do BNDES. Os empréstimos são oferecidos com juros subsidiados e as empresas que aderirem devem se comprometer a não demitir funcionários.

As linhas de crédito incluem capital de giro, investimentos em adaptação da produção, compra de máquinas e equipamentos e prospecção de novos mercados.

Nos primeiros dias de operação, 75 contratos foram assinados, todos voltados para capital de giro. Entre os setores contemplados, a indústria de transformação lidera com 84,1% do valor aprovado, seguida por agropecuária (6,1%), comércio e serviços (5,7%) e indústria extrativa (4,2%). Pequenas e médias empresas responderam por quase 30% dos recursos já liberados.

Segundo o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, a agilidade na concessão foi possível graças ao trabalho conjunto com 50 instituições financeiras parceiras.
“Nosso objetivo é proteger os empregos e fortalecer as empresas e a economia, inclusive estimulando a participação em novos mercados”, afirmou.

Como solicitar o financiamento

Para acessar o plano, as empresas devem primeiro verificar sua elegibilidade no site do BNDES, utilizando login com certificado digital via plataforma GOV.BR. Se confirmada a habilitação, o pedido deve ser feito junto ao banco com o qual a empresa já mantém relacionamento. Grandes companhias podem procurar o BNDES diretamente.

Atualmente, 2.236 empresas já acessaram o sistema de consultas, mas apenas 533 cumpriram o critério mínimo: ao menos 5% do faturamento bruto anual, entre julho de 2024 e julho de 2025, precisa vir de produtos atingidos pelas tarifas.

Efeitos do tarifaço

O impacto do tarifaço já é perceptível. Levantamento da Amcham Brasil aponta que as exportações brasileiras dos produtos afetados caíram 22,4% em agosto, na comparação com o mesmo mês de 2024.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. De acordo com o governo brasileiro, as tarifas de até 50% incidem sobre cerca de 35,9% das exportações para o mercado norte-americano.

A medida foi determinada pelo presidente Donald Trump, em vigor desde 6 de agosto, mas deixou de fora quase 700 produtos, como suco de laranja, fertilizantes, aeronaves civis, celulose, minérios, metais preciosos e derivados energéticos.

Trump justificou a decisão alegando que os EUA têm déficit comercial com o Brasil, argumento contestado por dados oficiais. Ele também citou como motivo o “tratamento dado” ao ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.