Daniela Amorim | 19 de setembro de 2025 - 10h20

Trabalho infantil cresce no Brasil em 2024 e atinge 1,65 milhão de crianças e adolescentes

Alta preocupa especialistas e afasta o país da meta de erradicação até 2025, segundo dados do IBGE

TRABALHO INFANTIL
Trabalho infantil por todos os lugares: nos estacionamentos, crianças trabalham lavando o vidro dos carros - (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

O número de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil no Brasil chegou a 1,650 milhão em 2024, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (19) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O total representa um aumento de 2,1% em relação a 2023, com 34 mil novos casos, interrompendo a tendência de queda observada no ano anterior.

Ao todo, 1,957 milhão de crianças e adolescentes exerceram alguma atividade econômica ou de autoconsumo em 2024. Desses, cerca de 560 mil realizavam tarefas consideradas perigosas, com riscos à saúde e à integridade física.

O levantamento é parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua): Trabalho de Crianças e Adolescentes 2024. De acordo com a legislação brasileira, é considerado trabalho infantil toda atividade econômica ou de autoconsumo exercida por menores de 13 anos, ou por adolescentes em condições proibidas por lei — como jornadas excessivas, ambientes perigosos ou sem vínculo formal.

Entre as regiões do país, o Nordeste concentra o maior número de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, com 547 mil casos — um aumento de 37 mil em relação a 2023. O Sudeste aparece em seguida, com 475 mil, seguido pelo Norte (248 mil), Sul (226 mil) e Centro-Oeste (153 mil).

Em termos proporcionais, a Região Norte apresenta a maior taxa: 6,2% da população entre 5 e 17 anos está em situação de trabalho infantil. O Sudeste, por outro lado, tem o menor índice: 3,3%.

O crescimento preocupa especialistas porque dificulta o cumprimento da meta da ONU de erradicar o trabalho infantil até 2025, como estabelecido nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Segundo o analista do IBGE, Gustavo Geaquinto Fontes, o aumento se concentrou especialmente em atividades voltadas ao autoconsumo familiar, e não necessariamente em empregos formais ou informais. Ele pondera que ainda é cedo para afirmar se há uma reversão de tendência, mas destaca que o número de crianças em trabalhos perigosos diminuiu.

“É cedo para afirmar que isso é uma reversão de tendência. O trabalho infantil perigoso diminuiu em 2024”, explicou o analista.

No Brasil, o trabalho só é permitido a partir dos 14 anos na condição de aprendiz, e há diversas restrições até os 18 anos — como proibição de trabalho noturno, insalubre ou perigoso. O envolvimento de crianças e adolescentes em trabalho para autoconsumo, mesmo sem remuneração, também pode configurar trabalho infantil se houver jornadas exaustivas ou comprometimento do desenvolvimento.