Arábia Saudita e Paquistão assinam pacto de defesa mútua em meio a tensão no Oriente Médio
Acordo considera que um ataque a um dos países será visto como agressão a ambos; anúncio ocorre após ataque aéreo israelense ao escritório político do Hamas no Catar
PACTO DE DEFESAA Arábia Saudita e o Paquistão, potência nuclear do sul da Ásia, assinaram nesta quinta-feira (18) um pacto de defesa mútua que estabelece: qualquer ataque contra um dos países será tratado como agressão a ambos. O anúncio acontece em meio a mudanças no cenário político do Oriente Médio e dias após um ataque aéreo israelense ao escritório político do Hamas, no Catar.
Os dois países já mantêm laços econômicos, religiosos e de segurança de longa data, e segundo analistas, a cooperação em defesa sempre foi estratégica. Há relatos de que Riad ajudou a financiar o programa nuclear paquistanês em seu desenvolvimento, e o pacto era esperado desde a recente elevação das tensões entre a Arábia Saudita e o Irã.
Para observadores internacionais, o timing do acordo soa como um recado a Israel, cujo conflito com o Hamas tem desestabilizado a região e provocado ofensivas que envolvem Irã, Líbano, Síria, Iêmen e Catar. O pacto é considerado a mais importante decisão de defesa de um país árabe do Golfo desde o ataque a Doha.
O documento foi assinado pelo príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman e pelo primeiro-ministro paquistanês Shehbaz Sharif. Embora não mencione explicitamente o uso do arsenal nuclear do Paquistão, um alto funcionário saudita afirmou ao Financial Times que o pacto “utilizará todos os meios defensivos e militares necessários, dependendo da ameaça específica”, deixando no ar a possibilidade de incluir a chamada “proteção nuclear”.
Os laços militares entre Riad e Islamabad remontam ao fim dos anos 1960, quando tropas paquistanesas foram enviadas à Arábia Saudita para reforçar a defesa durante a guerra do Egito no Iêmen. Essa parceria se fortaleceu após a Revolução Islâmica no Irã (1979), quando o reino saudita passou a temer um confronto com Teerã.
O Paquistão desenvolveu seu programa de armas nucleares como contrapeso ao da Índia, rival histórico com quem travou diversas guerras. Segundo o Boletim dos Cientistas Atômicos, a Índia possui cerca de 172 ogivas, enquanto o Paquistão conta com 170.
O Ministério das Relações Exteriores da Índia reconheceu o pacto e afirmou que irá “avaliar as implicações para a segurança nacional e para a estabilidade regional e global”. A Arábia Saudita, apesar do novo acordo com Islamabad, também mantém relações próximas com Nova Délhi.