Da Redação | 18 de setembro de 2025 - 15h30

Cidade dos Ônibus, promessa de R$ 75 milhões, pode renascer como polo logístico

Após 13 anos de abandono, área planejada para central de ônibus pode se tornar polo estratégico da Rota Bioceânica

PROMESSAS
Obras da ponte da Rota Bioceânica em Porto Murtinho - (Foto: Reprodução)

Em 2012, a Prefeitura de Campo Grande lançou o projeto da Cidade dos Ônibus. O plano era ambicioso: um investimento de R$ 75 milhões em uma área de 20 hectares na BR-163, perto do anel viário. O espaço teria garagem para coletivos, oficinas de manutenção, alojamentos, posto de combustível, agência bancária e até restaurante. Seria uma espécie de "cidade dentro da cidade", concentrando serviços para organizar o transporte coletivo e dar suporte ao setor.

A promessa não saiu do papel. Em 2013, a própria prefeitura não quitou a guia para a escritura do terreno, o que travou o processo de regularização e afastou investidores. O tempo passou, o mato tomou conta e o local virou símbolo de promessa esquecida. Em 2017, já na gestão de Marquinhos Trad (PSD), houve uma tentativa de retomada: nove empresas receberam lotes, mas nenhuma delas conseguiu se instalar. Um ano depois, em 2018, o espaço foi lembrado pela imprensa como um "grande matagal" - um retrato da distância entre discurso e realidade.

Cidade dos Ônibus foi projetada na gestão do ex-prefeito Nelson Trad Filho (2005-2012)

Treze anos após o lançamento, o projeto volta ao debate. A gestão da prefeita Adriane Lopes (PP) avalia transformar a área em polo logístico ligado à Rota Bioceânica, corredor que ligará o Brasil ao Pacífico passando por Paraguai, Argentina e Chile. A ponte internacional entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta está 75% concluída e deve ser entregue em 2026. Quando pronta, a ligação deve reduzir em até 30% os custos logísticos e encurtar em 15 a 17 dias o transporte de cargas para a Ásia em comparação com o Porto de Santos.

A proposta é que a antiga Cidade dos Ônibus concentre transportadoras e empresas de apoio ao transporte rodoviário, funcionando como hub logístico. O superintendente de Desenvolvimento Econômico do município, Luciano Rodrigues, afirma que já existem conversas com o governo estadual e representantes do setor privado. Mas a lista de desafios é longa: será preciso construir uma rotatória de acesso, pavimentar e iluminar o local.

Na Câmara Municipal, a discussão sobre a Lei do Corredor Bioceânico avança. A proposta prevê incentivos fiscais, definição de áreas para centros logísticos, pátios de triagem, sinalização bilíngue e centros de atendimento a caminhoneiros e turistas.

A viabilidade, segundo técnicos ouvidos pela prefeitura, depende diretamente da articulação público-privada. Só em 2025, o Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico (Codecon) aprovou R$ 200 milhões em novos investimentos, muitos ligados ao setor logístico. Parte desses recursos está vinculada ao Prodes, programa de incentivos fiscais em troca de empregos e aportes privados.

Se sair do papel, a Cidade dos Ônibus deixará de ser lembrada como uma promessa frustrada feita ainda no governo de Nelson Trad Filho (2005-2012) e poderá se transformar em símbolo de um novo ciclo de desenvolvimento econômico. O desafio será superar os erros do passado e garantir que o espaço se torne, de fato, um motor da logística sul-americana.