Advogado Nelson Wilians se cala em CPMI e nega elo com fraude contra aposentados
Investigado pela PF por transações suspeitas, defensor diz abominar crimes contra idosos e invoca direito ao silêncio na comissão do INSS
CPI DO INSSO advogado Nelson Wilians, investigado pela Polícia Federal por envolvimento em um esquema de descontos indevidos em benefícios do INSS, compareceu nesta quinta-feira (18) à CPMI do INSS no Congresso Nacional, mas recusou-se a prestar compromisso de dizer a verdade. Com um habeas corpus em mãos, concedido pelo ministro Nunes Marques, do STF, ele também invocou o direito ao silêncio durante toda a oitiva.
"Este que aqui está, assim como todos, abomina o que aconteceu. É abominação. Lesar um aposentado já é, por si só, um crime gravíssimo", declarou Wilians em sua fala inicial, antes de começar a se esquivar das perguntas feitas pelos parlamentares da comissão.
Apesar da recusa em colaborar com a investigação parlamentar, o advogado negou envolvimento com os crimes e afirmou: "Reafirmo que nada tenho a ver com o objeto desta CPMI".
Relações suspeitas com investigados
Durante o depoimento, Wilians também negou conhecer Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como peça-chave no esquema que desviava recursos de aposentados por meio de descontos ilegais. No entanto, admitiu ter amizade com Maurício Camisotti, outro investigado no caso e seu ex-cliente.
De acordo com a Polícia Federal, a relação entre Nelson Wilians e Camisotti extrapola os limites de uma simples ligação profissional. Investigações apontam que entre 2019 e 2023, o advogado movimentou R$ 4,3 bilhões em operações consideradas suspeitas. As justificativas apresentadas por ele — como pagamento de honorários e compra de imóveis — não encontram respaldo nos registros oficiais.
“As justificativas apresentadas variam entre alegadas operações imobiliárias — inexistentes nos bancos de dados oficiais — e supostos honorários adiantados, os quais não foram identificados nas contas pessoais ou empresariais de ambos”, aponta trecho da investigação da PF.
Associação sob suspeita
O nome de Nelson Wilians também aparece vinculado à Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos), apontada como uma das entidades beneficiadas por descontos ilegais em aposentadorias. Segundo a PF, a associação teria movimentado mais de R$ 231 milhões em cinco anos e seria controlada por laranjas ligados a Camisotti.
A suspeita é que Wilians tenha atuado como elo financeiro na estrutura de repasses ilícitos. “A relação entre Nelson Wilians e Maurício Camisotti revela-se além dos limites de uma mera vinculação profissional”, conclui o relatório da PF, que também acusa o advogado de tentar obter informações sobre o andamento das investigações.
O esquema, que envolve diversas entidades e empresários, pode ter desviado mais de R$ 6 bilhões entre 2019 e 2024, segundo a apuração da Polícia Federal.
Tensão na comissão
Durante a oitiva, o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), iniciou os questionamentos perguntando sobre doações eleitorais feitas por Wilians e se o objetivo seria influenciar decisões políticas. O advogado negou qualquer tentativa de obter favores em troca de apoio financeiro a campanhas.
A partir desse momento, passou a se mostrar impaciente e reafirmou, repetidamente, que não tem relação com os fatos investigados. Ele reiterou o uso do direito constitucional de não produzir provas contra si e exigiu respeito à sua decisão de permanecer calado.
A CPMI do INSS segue apurando responsabilidades e vínculos entre os envolvidos no esquema que lesou milhares de aposentados em todo o país, e o nome de Nelson Wilians segue sob escrutínio, apesar da postura defensiva adotada durante o depoimento.