Câmara resgata voto secreto na PEC da Blindagem em manobra liderada por Hugo Motta
Mudança aprovada por 314 deputados retoma mecanismo que impede STF de processar parlamentares sem aval da Casa
CONGRESSO NACIONALEm uma articulação costurada na manhã desta quarta-feira (17), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), conseguiu reinserir o voto secreto na PEC da Blindagem, que dá ao Congresso poder para autorizar ou barrar o início de processos criminais contra parlamentares. A proposta foi aprovada por 314 votos a favor e 168 contra, após uma derrota do mesmo trecho no dia anterior.
A mudança representa um retorno ao modelo anterior a 2001, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) precisava de autorização do Congresso para processar criminalmente deputados e senadores — e nenhum dos 224 pedidos feitos até então havia avançado.
Manobra política e clima de tensão
A decisão foi considerada uma manobra regimental pelos opositores, já que o trecho havia sido rejeitado em plenário na terça-feira (16). Para resgatar a votação, o relator da PEC, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), apresentou requerimento com apoio de líderes de partidos como PP, União, Republicanos, MDB, PL, PSDB, Avante e Podemos.
“A votação do voto secreto ontem não refletiu o espírito do plenário”, justificou Cajado. A manobra gerou tensão, especialmente após o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), ameaçar recorrer ao STF para anular a votação. Em resposta, Hugo Motta ironizou: “É um direito de Vossa Excelência ir ao Supremo, como faz quase que diariamente”.
Negociação e troca de apoios nos bastidores
A articulação para ressuscitar o voto secreto na PEC da Blindagem faz parte de uma negociação mais ampla entre o Centrão e partidos aliados ao governo. Segundo bastidores divulgados pelo Estadão, houve oferta de apoio à base do governo em votações estratégicas, como forma de troca para aprovação da PEC.
O governo federal se manteve neutro, e apenas 12 deputados petistas votaram a favor da proposta, apesar da orientação contrária da liderança do PT.
Blindagem para anistiar bolsonaristas?
A medida é vista por opositores como parte de uma estratégia para viabilizar a anistia dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, o que pode beneficiar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão pelo STF por tentativa de golpe.
A deputada Bia Kicis (PL-DF), defensora da proposta, reconheceu que o texto ainda é insuficiente, mas disse que representa uma vitória mínima. “O Parlamento precisa ser respeitado. O texto está aquém, mas garante minimamente nossas prerrogativas”, afirmou.
Líderes partidários da Câmara devem se reunir ainda nesta quarta para discutir a votação da anistia aos condenados pelos atos golpistas.