André Marinho | 17 de setembro de 2025 - 14h15

Dólar rompe teto cambial e pressiona Banco Central da Argentina a intervir

Com peso argentino em queda, governo Milei enfrenta teste de fogo em meio a instabilidade política e eleições legislativas

ECONOMIA INTERNACIONAL
Dólar rompe limite cambial na Argentina e pressiona Banco Central a intervir para conter desvalorização do peso. - (Foto: REUTERS/Mohamed Abd El Ghany)

O dólar ultrapassou nesta quarta-feira (17) o limite superior da banda cambial móvel da Argentina, estabelecida com aval do Fundo Monetário Internacional (FMI), acendendo o alerta para uma possível intervenção do Banco Central (BCRA). A cotação do chamado “dólar no atacado” chegou a atingir 1.474,50 pesos argentinos, segundo o economista Christian Buteler, superando o teto estimado em 1.474,4 pesos, calculado pelo jornal Clarín.

Embora tenha havido rumores de que o BCRA teria vendido US$ 10 milhões no momento em que a cotação tocou esse patamar, o operador de câmbio Gustavo P. Quintana, que divulgou a informação inicialmente, recuou e afirmou posteriormente que a pressão vendedora pode ter partido do setor privado.

Regime cambial permite intervenção técnica

O sistema cambial argentino permite oscilações dentro de uma faixa móvel, que se ajusta diariamente. Caso o teto seja rompido, o Banco Central pode intervir comprando pesos argentinos para conter a volatilidade, sem violar os termos acordados com o FMI. Segundo o ministro das Finanças, Luis Caputo, essa possibilidade já estava prevista nas regras da atual política de estabilização.

“Se o teto for rompido, o BCRA comprará pesos para absorvê-los e reduzir a volatilidade cambial”, afirmou Caputo na terça-feira (16). A ação, nesse caso, é vista mais como um ajuste técnico do que uma mudança de política.

Crise cambial e tensão política

A disparada do dólar ocorre em um momento político delicado para o governo de Javier Milei, que acaba de sofrer uma derrota nas eleições legislativas provinciais de Buenos Aires. O pleito reforçou a pressão sobre a equipe econômica e aumentou a incerteza em torno da agenda fiscal do presidente, que tem apostado em uma política de forte ajuste e liberalização da economia.

O cenário se agravou com a repercussão de um possível escândalo de corrupção envolvendo Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Presidência. O caso tem repercussão nacional e pode comprometer ainda mais a imagem do governo diante da opinião pública.

FMI mantém apoio, mas cobra estabilidade

Na semana passada, o FMI reafirmou apoio ao programa de estabilização da Argentina, mas reiterou a necessidade de manter estabilidade cambial e avanços fiscais. A oscilação do dólar e a necessidade de intervenção do BCRA são vistas como um teste decisivo da credibilidade econômica da gestão Milei, especialmente em um país historicamente vulnerável a choques cambiais.