Deputados de MS denunciam aumento de abusos contra crianças e cobram ações urgentes
Relatos de casos em Campo Grande e dados alarmantes sobre estupros mobilizam parlamentares na Assembleia Legislativa
VIOLÊNCIA INFANTILA sessão plenária desta quarta-feira (17), na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), foi marcada pela dor, indignação e apelos por justiça diante do aumento de crimes sexuais contra crianças e adolescentes no estado. O debate foi puxado pela deputada Mara Caseiro (PSDB), 3ª vice-presidente da Casa, que relatou um caso recente ocorrido na Comunidade do Poconé, em Campo Grande: um homem de 60 anos, acusado de abusar sexualmente de crianças, teve a casa incendiada por moradores revoltados. Ele conseguiu fugir antes da chegada da polícia.
“Já fui criança, sou mãe, avó de três netos. Casos assim doem no fundo da nossa alma. Fico estarrecida e muito preocupada”, afirmou Mara Caseiro, visivelmente emocionada. Segundo a parlamentar, a esposa do acusado teria consentido com os abusos.
Dados que alarmam
Durante sua fala, Mara apresentou números que evidenciam a gravidade da situação em Mato Grosso do Sul. De acordo com ela, em 2025, oito em cada dez vítimas de estupro no estado são crianças ou adolescentes. Dos 1.273 casos registrados, 539 envolveram crianças de até 11 anos e 488 adolescentes entre 12 e 17 anos.
A maioria dos crimes (64,5%) aconteceu dentro das próprias casas das vítimas. Em Campo Grande, no primeiro semestre deste ano, foram contabilizados 1.279 crimes de estupro, sendo 431 contra crianças.
Sistema de proteção enfraquecido
A deputada também destacou a necessidade urgente de fortalecer os conselhos tutelares, que muitas vezes são os primeiros a receber denúncias desse tipo de crime. “Não podemos criminalizar os conselhos, mas precisamos aparelhá-los, dar estrutura, condições de trabalho, psicólogos, assistentes sociais e formação contínua aos conselheiros. Só assim poderão agir de forma efetiva quando forem acionados”, ressaltou.
Ela também defendeu a implementação de campanhas educativas nas escolas, como forma de orientar crianças a identificar situações de abuso e incentivá-las a denunciar. “Há necessidade de políticas transversais para combater esse mal que tem destruído o sossego e muitas vezes a vida de crianças e adolescentes”, alertou.
Violência naturalizada e papel da educação
A deputada Gleice Jane (PT) reforçou o debate, destacando que a violência sexual infantil tem sido naturalizada em muitos lares. Para ela, o combate passa necessariamente pela educação e pelo preparo de professores.
“As crianças precisam entender o que é assédio e violência. Precisamos capacitar os professores e dar segurança para que abordem esse tema em sala de aula”, disse.
Conscientização nas telas de cinema
O deputado Caravina (PSDB) também contribuiu com a discussão, lembrando que tramita na Casa um projeto de sua autoria que propõe a obrigatoriedade de exibição de mensagens de prevenção ao abuso infantil antes das sessões de cinema em Mato Grosso do Sul. “O cinema é um espaço plural e pode se tornar um importante canal de conscientização e incentivo à denúncia”, afirmou.