Redação E+ | 17 de setembro de 2025 - 08h35

Estudo revela que 63% dos idosos atendidos na rede pública já sofreram quedas

Pesquisa em bairro da zona leste de São Paulo mostra cenário alarmante, com medo constante e risco elevado de lesões entre a população idosa

SAÚDE
Casas não adaptadas e ambientes urbanos inseguros aumentam o risco de queda entre idosos - Foto: Nanci/Adobe Stock

As quedas frequentes vêm comprometendo a saúde e a autonomia de milhões de idosos no Brasil. Um novo levantamento realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Itajubá (MG) e do Centro Universitário Ages (BA) identificou que 63% dos idosos atendidos na Atenção Primária à Saúde do bairro Belenzinho, na zona leste de São Paulo, já sofreram ao menos uma queda — índice muito superior à média global, estimada entre 25% e 33%.

Além disso, 90% dos participantes relataram medo constante de cair, o que reforça o impacto desse problema na saúde física e mental dos mais velhos. O estudo foi publicado na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Cenário de risco dentro e fora de casa

Segundo o professor Luciano Vitorino, autor da pesquisa, as condições das moradias e do espaço urbano foram determinantes para os altos índices de quedas. “A maioria das casas visitadas não tinha adaptações de segurança, e dois terços das quedas aconteceram dentro de casa”, explicou.

Fora das residências, os desafios são igualmente grandes: calçadas irregulares, escadas sem corrimão e iluminação precária tornam o deslocamento arriscado. “O ambiente urbano onde vivem esses idosos é hostil à mobilidade segura”, acrescenta o professor.

Medo de cair afeta mobilidade e saúde mental

O medo de cair, presente em nove entre dez entrevistados, tem efeito direto na qualidade de vida dos idosos. “Esse medo paralisa. O idoso se movimenta menos, perde força muscular e equilíbrio, o que aumenta ainda mais o risco de cair”, alerta Vitorino.

A geriatra Thais Ioshimoto, do Hospital Israelita Albert Einstein, concorda: “O receio exagerado pode levar ao isolamento social, depressão e à perda da autonomia, criando um ciclo difícil de reverter”.

Ela explica que uma única queda pode ser suficiente para desencadear esse processo. “Fraturas, especialmente de quadril, exigem cirurgias e muitas vezes comprometem para sempre a independência do idoso.”

Perfil clínico frágil aumenta a vulnerabilidade

O perfil dos participantes do estudo ajuda a entender o alto índice de quedas. Entre os 400 idosos avaliados:

Segundo os especialistas, essas características elevam o risco de quedas e suas consequências.

Fatores de risco mais comuns

Entre os principais fatores associados às quedas estão:

“Mulheres são mais vulneráveis devido à osteoporose e menor massa muscular após a menopausa. Além disso, muitas passam mais tempo em casa, onde acontecem a maioria das quedas”, afirma Vitorino.

Prevenção é possível e necessária

A boa notícia é que grande parte das quedas pode ser evitada. Especialistas recomendam um conjunto de medidas simples, mas eficazes:

“Nosso foco deve ser garantir que os idosos envelheçam com saúde e autonomia. Cair não é algo ‘normal’ da idade”, enfatiza Vitorino.